Páginas

quinta-feira, 20 de junho de 2024

A Igreja Luterana e o Visitante Invisível

Já tem muitos anos desde que pensei em escrever esse pequeno artigo sobre igrejas cristãs evangélicas e suas práticas. Não gosto de procrastinar, porém pelo fato desse assunto demandar tempo, visto que trata-se de observação "in loco" visitando diversas denominações cristãs, preferi aguardar o momento certo. Importante saber que o propósito das minhas visitas não era comparar doutrinas, procurar erros... ou achar pontos críticos, mas apenas e tão somente ver "ao vivo" as práticas, vivências e culto, nas demais igrejas de cunho evangélico. 

Por incrível que pareça 20 anos se passaram desde as visitas, e só agora parei para escrever a respeito. No entanto penso que pelo fato de ter sido uma experiência real, ainda tenha algum valor nos dias de hoje.

Enfim, essa é a história: 

Certa vez, a título de pesquisa pessoal, decidi visitar algumas comunidades cristãs: batistas da convenção, presbiteriana histórica, e também igrejas Renovadas/Avivadas, Pentecostais, Neo Pentecostais, e por fim algumas das nossas comunidades luteranas confessionais. O objetivo das visitas era apenas expandir meu conhecimento sobre as formas de celebração de cultos, funções ministeriais, sacramentos, etc... ou seja, ver na prática tudo aquilo que se aprende sobre as mais diversas denominações cristãs no Seminário e na faculdade teológica. 

Tendo em mente que sou luterano confessional ortodoxo e bem tradiocional, pulei logo para o outro extremo e comecei pelas denominações não históricas, entre estas optei pelas que eram denominadas "Renovadas", "Pentecostais" e "Neo Petencostais". Primeiramente estive em uma Batista Renovada, não afiliada a qualquer Convenção Batista, era realmente uma igreja batista independente.  O fato de ser uma comunidade livre me fez lembrar as tão conhecidas "Freie lutherische Gemeinschaft", por vezes aqui chamadas de "Frei Gemeinde". 

A experiência nessa Igreja Batista Independente foi interessante. Fui muito bem recebido. Já na entrada me deram calorosas boas vindas, perguntaram-me de onde eu vinha, e se ocupava algum cargo na minha igreja. Tão logo o culto começou, imediatamente o dirigente do culto fez questão de me chamar para sentar junto aos demais servos de Deus  que faziam parte daquele ministério. O modelo de culto deles estava entre o Batista Tradicional, e os Batistas Renovados. No entanto o que realmente me chamou a atenção foi a cordialidade.

A segunda visita foi a uma Assembléia de Deus Tradicional. Diferentes da Batista Independente, estes

tinham um modelo de culto totalmente pentecostal, com ênfase no falar em línguas e algumas revelações. Todavia, o que se destacou aqui foi também a maneira como fui muito bem recebido. Antes mesmo do culto começar, um obreiro (forma como chamam os que trabalham na Obra de Deus e servem a igreja com seus dons), se aproximou e pediu para sentar-se ao meu lado. Trazia consigo uma Bíblia extra e uma Harpa Cristã (hinário), que prontamente me entregou, e também se ofereceu para me auxiliar na busca pelos hinos e também no manuseio da Bíblia. Sinceramente fui tão bem acolhido que me senti como se pertencesse àquela comunidade.  

Minha terceira visita foi a uma igreja Neo Pentecostal. A recepção na entrada foi razoável. A quantidade de participantes naquele culto era inacreditável. Diferente das recepções anteriores, essa parecia mais "plástica...rsrsrs", não sei nem como expressar, mas parecia tudo muito rápido... quando dei por mim o culto já havia terminado, e tão rápido quanto a igreja encheu, ela esvaziou-se. 

Passei então a visitar algumas congregações de igrejas históricas, incluindo aqui as Luteranas. Sei que a comparação é inevitável, porém ressalto que não foi esse o meu propósito... ou pelo menos não era até que comecei a visitar algumas das paróquias da nossa querida Igreja Ev. Luterana do Brasil, (na época eu era pastor em uma comunidade da IELB)

Considerando meu objetivo inicial, optei por visitar paróquias em distrito diferente do meu, para evitar ser  reconhecido, afinal, a ideia era apenas observar. Já na primeira visita fiquei perplexo... novamente afirmo que eu não tinha a intenção de comparar... mas a verdade é que pela primeira vez na minha vida experimentei o "dom" da invisibilidade. Entrei na comunidade minutos antes do inicio do culto e ninguém... ninguém mesmo me viu entrando. Ninguém em momento algum foi até onde eu estava. Nem ao menos se dignaram a me mostrar como manusear o hinário para acompanhar a loturgia. Como se o fato de eu estar lá, por si só me tornasse conhecedor das práticas luteranas. Tirando o final do culto, na porta de saída, momento em que o pastor rapidamente apertou minha mão, de resto ninguém percebeu que havia um visitante no culto. Repeti o feito em outras duas comunidades e o resultado foi semelhante

Lembro-me que dias depois, quando visitei no gabinete o Rev. Dr. Carlos Walter Winterle, então Presidente da IELB, comentei sobre minha experiência de "invisibilidade" e do desejo de escrever sobre o assunto, ele prontamente me encorajou afirmando toda reflexão é sempre muito bem vinda.

A frieza das comunidades luteranas que visitei evidentemente não refletem a totalidade das comunidades da IELB. Há muitos fatores aqui a serem considerados, desde herança cultural, até a simples indiferença. Em contra partida, estive em comunidades da IELB onde todos eram muito  acolhedores, interessados em receber bem os visitantes e acima de tudo conhecedores da sã doutrina cristã, com Santa Ceia restrita aos membros comungantes, algo que concordo e pratico. Porém, a grande tristeza é que as experiências amargas, como essa lamentável demonstração de frieza e falta de atenção para com os visitantes, fazem com que a igreja continue sendo vista como uma igreja onde o amor ao próximo não é real,... é só mais um slogam escrito nos materiais de divulgação.

Por fim, como eu disse no começo desse texto, já se passaram mais de 20 anos...imagino que a IELB tenha mudado muito desde então. É possível que nem exista mais essa frieza toda nas comunidades que anteriormente visitei. Fique claro também, que jamais, em momento algum, qualquer cristão luterano deve aboandonar sua denominação porque uma ou outra comunidade pareça fria. Vale lembrar que nenhuma demonstração de calor humano é mais importante do que o correto ensino da Santa Palavra de Deus. E nisto a IELB vai muito bem. Lembremos-nos ainda que o amor nunca está acima da Palavra, mas abaixo desta, e serve a Deus segundo os Seus propósitos. Lembrem-se também, que com a ajuda de Deus, cada um de nós é chamado à colaborar para o crescimento da sua Comunidade local servindo ao próximo em amor. 


Você já passou por algo semelhante? Deixe seu comentário abaixo. Compartilhe conosco sua experiência!


Revdo. Ari Fialho Júnior
Igreja Evangélica Luterana Missionária
Gravataí/RS

* Clique AQUI e visite nosso canal no YouTube. Ative o "sininho" e faça sua inscrição.  



Nenhum comentário:

Postar um comentário