terça-feira, 27 de maio de 2008

Culto Cristocêntrico, ou Antropocêntrico?

Santa Ceia

A Santa Eucaristia é o centro do culto cristão e da vida da Igreja, têm sido assim desde os primórdios da Igreja, onde a cristandade nesta comunhão de altar torna-se una com todo o corpo de Cristo.
Cada pastor realmente comprometido com a obra de Deus deve zelar para que o verdadeiro sentido do Sacramento do Altar permaneça presente entre os seus congregados. Entretanto, como escreve Hermann Sasse[1]:

“Os cismas e heresias (...) se fizeram notar primeiro na celebração da Ceia do Senhor. É digno de nota que estes cismas, e a decadência do sacramento levaram os apóstolos a tratar do assunto(...)”.

Esta observação de Hermann Sasse parece bastante atual se considerarmos a grande possibilidade destes cismas e heresias gerarem influências ainda hoje no meio cristão. E não seria surpresa que a cristandade atual também estivesse experimentando constante decadência da vida sacramental.
Verdade é que a sã doutrina cristã tem sido atacada de todos os lados por novas doutrinas que se espalham como poeira no vento. Como por exemplo, uma das doutrinas ensinadas pela Igreja Pentecostal Deus é amor, e por tantos quantos crêem assim, (fonte http://www.ipda.org.br/ ) ensina a teologia dos super crentes, onde segundo esta doutrina um cristão não pode adoecer fisicamente, exceto se estiver em pecado. A teologia da prosperidade da Igreja Universal do Reino de Deus (fonte http://www.igrejauniversal.org.br/ ) ensina que a resposta para solução das suas necessidades financeiras se encontra em você mesmo e na maneira como você administra os seus dízimos e suas ofertas. A teologia da oração positiva de Norman Vincent Peale expressa em seus livros, ou espalhadas pela internet
fonte(http://jrobertopeixoto.sites.uol.com.br/ ) ensina que tudo na vida cristã depende de seu pensamento positivo no momento de oração.

Que o alvo principal dos que produzem tais novidades freqüentemente tem sido o Santo Sacramento do Altar isto fica claro quando percebemos o que há em comum entre estas doutrinas: o fato de que todas elas apontam o homem como a própria fonte de todas as bênçãos bastando apenas que o homem se determine e fortemente queira aquilo que ele almeja. Ou seja, não precisamos mais recorrer a fonte de vida que é o corpo e o sangue de Jesus, mas tão somente apegarmo-nos firmemente a nós mesmos. Para todos os que se apegam a estas novas doutrinas a Ceia já não é o centro do culto cristão. Se a presença de Cristo é real ou não, para todos os que crêem como exposto acima, isto já não importa visto que agora a Ceia torna-se um memorial em forma de prêmio para aquele que se comportou bem durante o mês e agora merece participar da mesa do Senhor.
Com tristeza constatamos que o ser humano quando dá asas a sua imaginação, produz os mais diversos tipos de teorias. Apegado ao que ele mesmo concebe, substituindo a verdade pelas suas próprias mentiras, o homem chega mesmo a opor-se a Deus, ainda que isto lhe custe à própria salvação.

De acordo com o pensamento do Rev. Horst R.Kuchenbecker[2]:

“Mesmo vendo ainda sinais do cristianismo em todos os lugares, vemos pouca vida cristã. Poucos são os que vivem e confessam a verdade que Jesus afirmou: “O meu reino não é deste mundo (Jo 18.36) ” No lar e na igreja há pouco ensino das verdades fundamentais. Estamos resvalando de um culto cristocêntrico para um culto antropocêntrico,(...) O vácuo produzido por tal desvio da verdade é preenchido pelo esoterismo e / ou cultos recreativos.”

Estamos vivendo em um período de crescente descaso com a doutrina verdadeira, e isto têm se tornado um veneno no meio da cristandade. Vemos isto claramente no meio da própria igreja, e é claro, isto reflete negativamente em nossas escolas, nossos clubes sociais , enfim na sociedade em geral, que já não reconhecem mais os valores cristãos como base e fundamento para nortear suas atitudes.
Na verdade, a decadência do verdadeiro ensino cristão, e em especial no que se refere ao Santo Sacramento do Altar, corresponde à decadência da própria igreja. Que isto é um fato real comprovamos quando observamos atentamente o que igrejas como as citadas acima ensinam não somente quanto a Santa Ceia, mas nas diversas doutrinas estabelecidas e aceitas como correta exposição dos textos sagrados. Tais denominações ocupam-se de acomodar os ensinamentos bíblicos à sua realidade, ou seja, ao invés de conformarem-se com as doutrinas que Deus já nos revelou na Bíblia, criam suas próprias doutrinas a custa de uma verdadeira ginástica hermenêutica e exegética, e então empurram suas conclusões para dentro dos textos sagrados na esperança de que Deus os aceite como Seus.
Ocupando lugar de destaque, o Sacramento do Altar é, sempre de novo, alvo de controvérsias. E é ai mesmo que a cristandade deve saber se posicionar. É aprendendo a combater as controvérsias e firmar sua posição naquilo que é a correta expressão da vontade divina. Evidentemente nós como igreja confessional não podemos calar diante destes fatos. Não podemos simplesmente ficar ausentes. Este é um desafio do presente, do qual é nosso papel assumirmos postura coerente com a nossa realidade e principalmente como Igreja de Cristo.
De fato, este problema, o enfraquecimento da compreensão correta da doutrina bíblica concernente ao Santo Sacramento do Altar, não é novo, todavia o que deve nos preocupar é como os nossos congregados têm se portado diante desta situação.
Para Hermann Sasse³ por exemplo, toda enfermidade da igreja se torna manifesta à Mesa do Senhor. Entretanto, para que possamos nos posicionar a respeito deste tema fora de nossas portas, é necessário primeiro reconhecermos em que situação estamos nós como povo cristão. Não só nos importa saber que pertencemos a uma igreja séria enquanto instituição, mas importa também que possamos afirmar fazer parte da Igreja verdadeira cujo único e suficiente Pastor é Jesus Cristo.
Como estão neste sentido nossas congregados? Devemos nos preocupar? Apesar de todos os nossos esforços, existe tal situação em nossas congregações? Temos sido vítimas deste enfraquecimento no real conceito de Santa Ceia?
Vale lembrar que o objetivo deste trabalho não é criticar, mas sim conduzir-nos a uma reflexão sobre nossas congregações e suas perspectivas sobre o Sacramento do Altar.

Santa Ceia – Breve histórico

Certamente que a origem da Santa Ceia se dá no exato momento em que o próprio Cristo a instituiu, a saber: na Quinta-feira Santa no momento em que Jesus Cristo juntamente com seus discípulos celebravam a Ceia pascal.
Este episódio é o cumprimento das promessas de Deus. Em Jeremias 31.31ss.: “Eis aí vêm dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança... não conforme a aliança que fiz com seus pais”. “... Pois, perdoarei as suas iniqüidades, e dos seus pecados jamais me lembrarei”. Em Hebreus 9.10, lemos que já chegou o “tempo oportuno da reforma”. Torna-se necessária à reforma da “anterior ordenança, por causa de sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma) e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a Deus”. Hb 7.18,19. Cristo é o mediador da nova aliança, Hb 9.15.
No centro do Sacramento do Altar está o sangue de Jesus Cristo, selo da Nova Aliança, o sangue do cordeiro de Deus, “porque onde há testamento é necessário que intervenha a morte do testador”. Hb 9.16.
Entretanto, é interessante notar que desde sua instituição até os dias de hoje, este sacramento tem sido alvo de controvérsias.
De acordo com o que nos mostra a própria história, a Igreja verdadeira, aquela fundamentada nas palavras do próprio Senhor Jesus, vem sofrendo constantes ataques de denominações religiosas, como as de cunho calvinistas, por exemplo: Igreja presbiteriana do Brasil, Igreja Batista de Sétimo dia, Igreja Adventista do Sétimo dia, Igreja Internacional da Graça de Deus, Convenção Batista Brasileira, entre outras, que advogam para si o direito de interpretar as palavras desta aliança firmada pelo Senhor, conforme sua própria vontade e inclinação.
Se voltarmos no tempo apenas até a época da reforma já teremos aí material histórico suficiente para termos uma clara noção do que tem sido esta luta contra a verdadeira Igreja cristã[3]: mestres zwinglianos de um lado disseminando seu erro sobre este sacramento, de outro lado mestres luteranos apegados a sã doutrina cristã. Entre ambos uma só questão: se na ceia o verdadeiro corpo e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo estão verdadeiramente e essencialmente presentes, são distribuídos com pão e vinho e recebidos oralmente por todos aqueles que fazem uso deste sacramento.
Ao longo dos tempos esta questão tem sido respondida de diversas maneiras[4]: Cristo não está presente, pão e vinho apenas representam o corpo e sangue de Jesus, tudo é um ato comemorativo, meramente simbólico, dizem a maioria dos entusiastas; pão e vinho transformam-se em carne e sangue, que inclusive devem ser adorados, ensinam os papistas; por outro lado, os calvinistas e a maioria dos reformados ensinam que já que seu corpo não pode estar presente aqui na terra, e ao mesmo tempo, em tantos lugares diferentes, onde quer que se celebre a Santa Ceia, afirmam então que Cristo está presente conforme a fé de cada um, onde a boca recebe pão e vinho e a alma se eleva ao céu e recebe Jesus Cristo pela fé.
Na mesma época, século XVI, em meio a tais controvérsias, e com o claro objetivo de estabelecer o correto ensino sobre muitas matérias que eram alvos de polêmica por parte dos que abandonaram a verdade em troca de ensino fantasioso e ante-escriturístico, F. Melanchthon redige a Apologia da Confissão de Augsburgo[5], e no seu capítulo X trata do tema em questão afirmando que:

[...] confessamos crer que na ceia o corpo e o sangue de Cristo estão presentes verdadeira e substancialmente, sendo oferecidos verdadeiramente com os elementos visíveis, pão e vinho, aos que recebem o sacramento. [...]

Tal declaração, por ser a correta exposição do ensinamento bíblico, deveria nortear ainda hoje o pensamento e compreensão de cada cristão, e de todos aqueles que fundamentam a sua fé na verdade.

Rev. Ari Fialho Júnior
Teólogo Luterano
Soli Deo Gloria!

[1] Sasse, Hermann. Isto é o meu Corpo – Porto Alegre, Casa Publicadora Concórdia, RS, 1970, p. 2.
[2] Kuchenbecker, H. R., A importância e necessidade da formação de Pastores, Professores e Leigos, Vox Concordiana, vol. 17, número 1, ano 2002, pág. 56 “1)A Secularização e as religiões do presente”.
[3] Goerl, A. Otto – “Cremos por isso também falamos”. Fórmula de Concórdia. Publicado pela Concórdia S. A. – Porto Alegre, 1977, pág. 79.
[4] Goerl, A. Otto – “Cremos por isso também falamos". Fórmula de concórdia. Publicado pela Concórdia S. A. – Porto Alegre, 1977, pág. 81, 82.
[5] Melanchton, Filipe. “Apologia da Confissão de Augsburgo”. Casa Publicadora Concórdia S. A., 1969, pág. 96.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Das Boas Obras

Das Boas Obras

As Boas Obras sempre foram um artigo de grande controvérsia mesmo entre as igrejas reconhecidamente cristãs. Na verdade, mesmo antes do nascimento da igreja, a cristandade já se debatia com este problema, a saber: Se as boas obras são necessárias para a salvação. Se as boas obras são necessárias ao menos para manter a salvação. Se as boas obras são prejudiciais à salvação.
O assunto é bem amplo, e está aberto a discussões. Porém muitas denominações religiosas sequer têm uma posição clara a este respeito. Mas creio que por se tratar de um tema fundamental no ceio da igreja, o mesmo deve ser esclarecido ao máximo, afim de que erros grosseiros possam ser evitados.
Abaixo segue minha opinião, fé e confissão sobre este tema:

1. Devemos diferençar entre obras que são boas diante dos homens e obras que são boas diante de Deus.

- Deus mui­tas vezes desaprova o que os homens consideram dignos de louvor, e os homens muitas vezes ignoram e desprezam o que é bom e aceitável aos olhos de Deus. Não cabe ao homem determinar quais as obras que agradam a Deus. Só Deus po­de fazê-lo (Miquéias 6.8).

2. Duas coisas são necessárias para que qualquer obra se qualifique como boa diante de Deus:

a- deve estar conforme a lei divina e deve proceder do motivo certo.

Boas obras devem estar conformes à vontade de Deus, tal como está revelada em sua palavra, especialmente na lei. É em vão supor que qualquer homem, clérigo ou leigo, congregação ou sínodo, possa determinar o que deve agradar a Deus.

"E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens" (Mateus 15.9). A palavra de Deus é o único padrão de boas obras. "Cuidareis em fazerdes como vos mandou o Senhor vosso Deus: não vos desviareis, nem para a direita, nem para a esquerda" (Deuteronômio 5.32).

Obras feitas de acordo com outros padrões, tais como os man­damentos da igreja, ou a devoção própria do homem, com sua santidade auto-inventada e exercícios impostos por ele mes­mo, não são boas obras, mas culto vão. E a boa intenção que se possa ter não transformará uma clara transgressão da lei em boa obra.

"Eis que o obedecer é melhor do que o sacri­ficar" (l Samuel 15.22); (João 16.2).

b- Boas obras devem proceder do amor a Deus.

Mesmo as obras da lei não são obras verdadeiramente boas se feitas por constrangimento, por serem ordenadas, ou se feitas por medo de punição, ou por desejo de recompensa. As esmolas e orações dos fariseus não agradaram a Deus, porque foram produzidas por vanglória e autojustiça (Mateus 6.1-5). Qual­quer consideração egoísta destrói a qualidade das boas obras. A fé atua pelo amor (Gálatas 5.6). A fé em Cristo produz amor no coração, e este amor se manifesta em boas obras. "O cumprimento da lei é o amor" (Romanos 13.10); (Ma­teus 22.36-40; 1 João 5.3).

3. Os não salvo não podem fazer obras verdadeiramente boa.

- Podem em alguma medida, sujeitar-se à letra da lei, e desta maneira realizar uma justiça civil. Podem ser louvados pelos homens por sua filantropia, pureza moral e honestidade, porque "o homem vê o exterior, porém o Senhor, o co­ração" (1 Samuel 16.7). É a atitude do coração que deter­mina o valor ético da obra. O único motivo reconhecido por Deus é amor abnegado, amor de Deus. Tal amor é fruto da fé, sendo, por isso, encontrado apenas em crentes.

"Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" (João 15. 5).

Os que crêem em Cristo são solícitos na prática de boas obras (Tito 3.8). Os regenerados estão internamente qualificados para a prática de boas obras, e as praticarão. A luz de sua fé brilhará em muitas boas obras (Mateus 5.16).

"Enquanto o homem não está salvo, conduzindo se de acordo com a lei e praticando as obras por serem ordena­das, por medo de punição ou desejo de recompensa, ainda es­tá sob a lei, e suas obras são chamadas por Paulo propria­mente obras da lei, pois são extorquidas pela lei, como as de escravo. Estes são os santos segundo a ordem de Caim, isto é, hipócritas. Mas quando o homem renasce pelo Espírito de Deus e está liberto da lei, isto é, livre do verdugo e guiado pelo Espírito de Cristo, vive de acordo com a vontade imu­tável de Deus contida na lei, e enquanto renascido tudo faz de espírito livre e contente. Estas obras não são chamadas propriamente da lei, mas obras e frutos do Espírito" (Fór­mula de Concórdía, Declaração Sólida, art. VI, 16, 17, Tri­glotta, p. 967).

Assim duas pessoas podem fazer exatamente a mesma obra requerida pela lei, mas uma a faz justamente por ser exigida, e teme a punição, ao passo que a outra a faz por amor a Deus e em gratidão por suas misericórdias. É esta última quem pratica boa obra.

4. Nem tudo o que o cristão faz é boa obra.

- Ainda tem o velho homem, que de forma alguma é melhor do que o do não salvo. Tudo o que procede da carne do cristão é ímpio e pecaminoso (Romanos 7.14-23). Apenas andamos no Espírito se vivemos no Espírito (Gálatas 5.25). Apenas pro­duzimos bom fruto quando nossa fé atua pelo amor. - Mes­mo as boas obras dos crentes não são perfeitas, mas estão manchadas pelo pecado. Disse Lutero: "O cristão piedoso pe­ca em todas as suas boas obras." Isto é verdade, porque tudo o que faz está mais ou menos contaminado com a pecami­nosidade da carne, o temor servil, o egoísmo, etc. (Isaias 64. 6). Mas por causa de Cristo mesmo estes sacrifícios espiri­tuais imperfeitos de seus filhos são aceitáveis diante de Deus (l Pedro 2.5).

"Mas a lei não ensina como e quando as boas obras dos crentes, embora nesta vida imperfeitas e impuras em virtude do pecado na carne, são, contudo, aceitáveis para Deus e lhe agradam... Mas o evangelho ensina que nossas ofertas espirituais são aceitáveis para Deus pela fé, por cau­sa de Cristo" (Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida, arti­go VI, 22, Triglotta, p. 969).

5. Adiáforos.

- Obras não ordenada ou proibida es­pecificamente por Deus são em si mesmas indiferentes (Mittel­dinge, adiáforos). Mas também a qualidade delas é determi­nada pelo motivo que as origina.

"Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a gló­ria de Deus" (1 Coríntios 10.31).

Não podemos pecar para a glória de Deus (Romanos 2.23,24; 6.1). Mas qualquer coi­sa que fazemos se procede do amor a Deus e é para sua gló­ria, é serviço que lhe agrada. Onde quer que Deus nos haja posto na vida, quer sejamos empregadores ou empregados, pais, mães, filhos, professores, estudantes, etc., devemos cumprir nosso dever com fidelidade,

"como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade, co­mo ao Senhor, e não como a homens" (Efésios 6.6,7).

Se cumpridos no verdadeiro espírito, os mais simples deveres de nossa vida diária tornam-se serviço agradável a Deus. Trabalhar apenas por dinheiro, estudar meramente para conse­guir honrarias e créditos, é egoísmo, não boa obra. Mas tra­balhar e estudar porque é da vontade de Deus que o façamos, e mostrar nosso reconhecimento pelo que Deus fez por nós, é agradável aos olhos de Deus.


6. Boas obras são necessárias porque Deus as pede de seus filhos (Mateus 5.16; 2 Coríntios 9.6,8; Tito 2.14).

- São, além disso, os frutos necessários do arrependimento (Mateus 3.8), o produto inevitável da fé (Gálatas 5.6; João 15.5). Sem eles a fé está morta (Tiago 2.17).

"Os regenerados pra­ticam boas obras de espírito livre. Isso não deve ser enten­dido como se fosse matéria de opção do regenerado fazer ou abster-se de fazer o bem quando assim o deseja, e que possa reter a fé ainda que intencionalmente persevere em pecados" (Fórmula de Concórdia, Epitome, Artigo IV, 11, Triglotta, p. 799).

As boas obras não são necessárias para a justificação e a salvação (Romanos 3.28). Ninguém é declarado justo diante de Deus na base de suas boas obras. Quando Deus justifica o homem, em nenhum sentido toma em considera­ção o bem que o homem possa haver feito, mas olha apenas para os méritos de Cristo (Romanos 3.24). Nossas boas o­bras também não complementam alguma falta ou deficiência nos méritos do Salvador.

"Porque com uma única oferta aper­feiçoou para sempre quantos estão sendo santificados" (He­breus 10.14).

Nem são necessárias para dar força e poder salvífico à fé, pois a fé confia nos méritos de Cristo, não em seus próprios frutos. Também não são necessárias para pre­servar a fé no coração, pois isso é feito pelo Espírito Santo através do evangelho (Cf. Fórmula de Concórdia, Epitome, e Declaração Sólida, Art. IV, Triglotta, p. 797 e seguintes).

7. Boas obras são recompensadas.

- A recompensa de boas obras não é recompensa conquistada por nós e que pos­samos exigir como devida a nós.

"Assim também vós, de­pois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer" (Lucas 17.10).

Além disso, nossas melhores obras são im­perfeitas, e julgadas por seus méritos apenas alcançariam con­denação para nós. “Ensinamos ser necessário praticar boas obras não para confiarmos que por elas mereçamos graça, mas por ser da vontade de Deus (Confissão de Augsburgo, Art. XX, 27, Triglotta, p. 57)”. Jamais deve ser intenção nos­sa ganhar algo com nossas boas obras, pois isso destruirá de vez seu caráter de boas obras.

Deus, contudo, prometeu recompensar ricamente nossas boas obras.

"É grande o vosso galardão nos céus" (Mateus 5.12). "A tua recompensa, porém, tu a receberás na ressur­reição dos justos" (Lucas 14.14).

"A piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser" (1 Timóteo 4.8).

Isso não é recompensa de mérito, mas de graça, recompensa que Deus não nos deve e que não podemos exigir como devida a nós, mas que ele pro­mete e dá livremente a seus filhos apenas por graça. Deus não revelou a exata natureza dessa recompensa. Pode ser que ele nos conceda bênçãos especiais em nossa vida (Eclesiastes 11.1; Provérbios 19.17; o quarto mandamento), ou que evi­te conseqüências danosas de nossos próprios erros. Nos céus a recompensa consiste em maior grau de glória (Mateus 25. 14-30; Lucas 19.12-26; 2 Coríntios 9.6).

Rev. Ari Fialho Jr.
Soli Deo Gloria!

Sumário da Doutrina Cristã - 2ª Edição, p. 155 - 159 – Editora Concórdia - 1981
Fór­mula de Concórdía, Declaração Sólida, art. VI, 16, 17, Tri­glotta, p. 967
Confissão de Augsburgo, Art. XX, 27, Triglotta, p. 57
Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida, arti­go VI, 22, Triglotta, p. 969.
Fórmula de Concórdia, Epitome, Artigo IV, 11, Triglotta, p. 799.
Cf. Fórmula de Concórdia, Epitome, e Declaração Sólida, Art. IV, Triglotta, p. 797 e seguintes.
Confissão de Augsburgo, Art. XX, 27, Triglotta, p. 57
Bíblia Sagrada.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Consciência



Como a consciência age no ser humano corrompido pelo pecado.

Consciência:

Conceito do ponto de vista filosófico/humano.

As principais correntes teórico-filosóficas que desenvolveram definições acerca do conceito consciência seguem dois caminhos: o proposto por Descartes e o produzido a partir de F.C. Brentano. Em Descartes a consciência se define como conhecimento reflexivo. Assim, ser consciente é apreender-se a si próprio de modo imediato e privilegiado. Isto leva a uma co-extensão entre consciência e psiquismo. O caminho de

Brentano retoma o conceito de intencionalidade da tradição escolástica, e que se torna conceito central na fenomenologia de T. Husserl. Segundo este caminho a consciência é definida pela intencionalidade, pela referência ou relação a um objeto que caracterizaria como mental imanente ou intencional, excluindo-se a obrigatoriedade da existência real ou efetiva. O critério de intencionalidade fundamenta uma classificação dos fenômenos psíquicos, sem apelar para critérios extrínsecos. Assim, teriam tantos fenômenos mentais quanto modos de a consciência se referir aos objetos imanentes. A esses modos temos considerado: 1) a representação, 2) o juízo e 3) o amor e o ódio. Outros conceitos e definições de consciência incluem também mais alguns modos: Verdade, Senso de Realidade, Auto-conhecimento, Capacidade de entender e Interagir com o Meio, Senso de Moral, Senso Crítico.

Consciência, e Bíblia:

No Antigo e em o Novo Testamento, a palavra Consciência aparece diversas vezes, sempre associada a questões morais. Tendo a ausência, ou presença de pecado, como fator de alteração da própria consciência.

- boa: 1Tm 1.5; 1Pe 3.15-16; Hb 13.18
- limpa: 1Tm 3.8-9
- pura: At 24.16 (grego aproskopos): sem ofensa, sem tropeço.
- em constante exame e submetida ao Espírito Santo: Rm 9.
- I Tm 4.2 Consciência cauterizada
- Tt 1.15 Tudo é puro para os que são puros, mas para os corrompidos e incrédulos nada é puro; antes tanto a sua mente como a sua consciência estão contaminadas.

Exemplos: - Paulo: 2Co 1.12; At 23.1; 2Tm 1.3 (consciência pura antes da conversão).
- Jó estava tranqüilo em todo o seu sofrimento: Jó 27.6

Diante dessas considerações introdutórias, que tiveram por intuito apresentar os pressupostos que norteia minha definição de consciência, tanto do ponto de vista puramente humano, como bíblico, parto para o ponto central da questão proposta: Como a consciência age no ser humano corrompido pelo pecado.

Vejamos:
Embora toda a humanidade esteja corrompida pelo pecado, ainda assim é necessário dividirmos aqui a humanidade em dois grupos distintos: Os que crêem em Jesus como Senhor e Salvador, e os que não crêem.
Uma vez que o estado da consciência é fundamental na postura de cada um diante de Deus, é de supor que os cristãos verdadeiros busquem frequentemente a confissão e o arrependimento com o intuito de manter uma consciência pura.
Porém, a consciência não é autoridade final na vida do cristão, e não deve servir de parâmetro para nos julgar. Ela pode nos iludir ou enganar.
E ai é que veremos a diferença entre salvo e não salvo, entre quem verdadeiramente crê em Jesus como Senhor e Salvador, e quem não crê. Pois aquele que é verdadeiramente convertido, usará como “norte”, como “prumo”, a Santa Palavra de Deus.

Aquele que não é um cristão verdadeiro usará apenas a própria consciência como nivelador da sua conduta. Deste modo, o resultado dos julgamentos do não salvo, por vezes, o colocará em situações contrárias a vontade de Deus.
Isto porque no homem caído, corrompido pelo pecado, a consciência está cauterizada, sob influencia direta do mal. É bem verdade que isto não impede que até certa medida o homem faça o que é reto e justo. Pois conquanto a natureza humana esteja completamente depravada e inclinada para todo tipo de maldade, ainda assim, por causa da lei de Deus que está gravada no coração do homem (Jr 31.33), este busca de muitas maneiras praticar a justiça civil, apresentar certo culto externo a Deus, e andar em retidão, pois julga que através destas “boas obras”, possa aplacar a ira de Deus que recai sobre ele, e até mesmo alcançar o favor divino.
Já no homem salvo, o cristão verdadeiro, a consciência age sempre em concordância com a Palavra de Deus. Pois esta agora não mais está sob influencia do mal, mas sim do Espírito Santo, que o conduz a toda a verdade.

Entretanto, não podemos esquecer que o homem não é “marionete” de Deus. Mesmo os salvos podem cometer erros grosseiros quando ignoram a vontade de Deus, e baseiam seus julgamentos unicamente em sua consciência.
Dos que sabiamente persistiram em ter uma consciência pura diante de Deus, além dos santos personagens bíblicos, e dos pais da igreja cristã, entre tantos outros, temos também o bom e histórico exemplo de Martinho Lutero que, no uso correto da consciência do homem cristão, ao se ver ameaçado de morte pronunciou as celebres palavras:


"Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão - porque não acredito nem no Papa nem nos concílios já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si mesmos - pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável.”


Rev. Ari Fialho Jr.
www.reverendoari.blogspot.com
Soli Deo Gloria!


*Bíblia Sagrada
*BERGER, Peter & LUCKMANN, Thomas 6a edição. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1985.