sábado, 29 de junho de 2013

Da Liberdade Cristã - Martinho Lutero

 DA LIBERDADE CRISTÃ
 
1


Para conhecermos a fundo o que seja um cristão e sabermos em que consiste a liberdade que Cristo lhe adquiriu e ofertou, de que São Paulo tanto escreve, quero frisar estas duas frases:

 Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém.

Um cristão é servidor de todas as coisas e sujeito a todos.

 Estas duas frases se encontram claramente em São Paulo, 1 Coríntios 9.19: “Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos...” e adiante em Romanos 13.8: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros”. O amor é, pois, serviçal e submete aquele em que está posto. Em Gálatas se diz de Cristo o mesmo: “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gálatas 4.4).

2 

Para se poder entender ambas as afirmações entre si diretamente contraditórias, sobre a liberdade e a servidão, deveremos ter em conta que todo cristão possui uma natureza espiritual e outra corporal. Segundo a alma, se chama ao homem espiritual, novo e interior; segundo a carne e o sangue é chamado pessoa corporal, velha e exterior. A respeito desta diferença, também a Sagrada Escritura contém informações diretamente contraditórias no concernente à liberdade e à servidão a que me referi a pouco.

3 

                Examinemos o homem interior, espiritual, para ver o que necessita para ser e poder chamar-se cristão, justo e livre. Uma coisa evidencia-se logo: nenhuma coisa externa, seja qual for, o torna justo ou livre; pois nem sua piedade ou justiça, nem sua liberdade, nem sua maldade e servidão são corporais externas. Que aproveita a alma se o corpo é livre, sadio e vigoroso, se come, bebe e vive à sua vontade?

Ou que dano pode causar à alma se o corpo anda sujeito, enfermo, fraco, padecendo fome, sede e sofrimentos, contra a sua vontade? Nada disso atinge a alma, tanto para libertá-la ou escraviza-la, torna-la justa ou perversa.

         4
Nada vale para a alma se o corpo se cobre de vestes sagradas, como fazem os sacerdotes e outros religiosos. Nem tampouco se permanece em igrejas e outros lugares santificados. Nem se ocupa somente de coisas sagradas, nem se faz orações de boca, jejua, faz peregrinações e pratica tantas boas ações quanto seja possível.
Algo completamente diferente há de ser o que concede à alma justiça ou retidão e liberdade: porque tudo o que ficou dito acima, obras e atos piedosos, também o homem mau, fingido e hipócrita pode conhecer e praticar. Aliás, fazem muitos hipócritas. Por outro lado, nada prejudica a alma se o corpo se cobre com vestimentas profanas e mora, come e bebe em lugar não santificado, não peregrina, nem reza, nem faz as obras que os hipócritas acima mencionados fazem.

      5
Nem no céu, nem na terra, existe para a alma outra coisa em que viver e ser justa, livre e cristã, que o Santo Evangelho, a Palavra de Deus, pregada por Cristo como Ele mesmo diz (João 11.25): “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá”; e adiante em João 14.6: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida.” E adiante em Mateus 4.4: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus”.

Sabemos então, que a alma pode prescindir de tudo, menos da Palavra de Deus. Fora disso nada existe com que auxiliar a alma. Uma vez, porém, que esta possua a Palavra de Deus, nada mais necessitará, pois na Palavra de Deus encontrará suficiente alimento, alegria, paz, luz, conhecimento, justiça, verdade, sabedoria, liberdade e toda sorte de bens em abundância. Assim lemos nos Salmos, especialmente no 119, que o profeta não clama por mais nada que pela Palavra de Deus; e na Escritura (Amós 8.11) se considera o maior castigo e sinal da ira divina, se Deus retira dos homens a sua Palavra. Mas ao contrário, a maior graça de Deus se manifesta quando Ele envia sua Palavra, segundo lemos no Salmo 107: “Enviou a sua palavra e os curou; e os livrou da destruição”. E Cristo não veio ao mundo com outro objetivo que pregar a Palavra de Deus. E com este exclusivo fim foram chamados e impostos em seus cargos todos os apóstolos, bispos, sacerdotes e eclesiásticos em geral. Ainda que infelizmente hoje não pareça.
 
 
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Fonte:
(Da Liberdade Cristã - Por Martinho Lutero - 3ª edição - Editora Sinodal - 1979)

segunda-feira, 17 de junho de 2013

OS ALUNOS ESCREVEM - A Ortodoxia Luterana

O estudo apresenta o que foi a Ortodoxia Luterana, as suas lutas e as suas principais contribuições da Teologia para a história da humanidade. 
Revista Semestral de Teologia, por Clouis Jair Prunzel 
 

I — O QUE CARACTERIZA A ORTODOXIA LUTERANA

A partir da publicação do Livro de Concórdia, em 1580, inicia, nos meados do século XVII, um novo período que marca o ponto alto de toda a história da Teologia. Conhecido como

Ortodoxia Luterana, estende-se até a metade do século XVIII, percorrendo 150 anos de versátil compreensão do material teológico e amplitude do conhecimento bíblico. Mesmo preocupando-se em se manter a posição da Reforma, a Ortodoxia constituiu um novo começo, notadamente com respeito à sua formulação erudita da Teologia. A filosofia escolástica influenciou a Teologia Luterana, mas o princípio phisosophia ancilla theologiae permaneceu. Hägglund caracteriza a influência da filosofia neo-aristotélica nos seguintes pontos de vista:

1. "A metafísica escolástica, os conceitos universais do mundo e da realidade, a aceitação da filosofia escolástica pela teologia foi facilitada pelo fato que aquela baseava seu conceito universal de mundo num princípio religioso: é Deus a realidade suprema e também o fundamento e o alvo de todas as outras realidades.

2. "O Neo-aristotelismo também suscitou completa revisão do método científico, fato que igualmente influenciou a exposição teológica. O método analítico foi uma tentativa de apresentar a Teologia numa forma mais padronizada do que se fizera anteriormente, isto é, a de representá-la como doutrina da salvação e dos meios pelos quais esta salvação pode ser alcançada.

No entanto, também os tratados teológicos que empregavam este método, ao mesmo tempo, seguiram a ordem da história da salvação, que é independente de métodos filosóficos.

3. "Na medida em que foi aceita pela Teologia, a filosofia escolástica alemã serviu para fortalecer a tendência intelectualista que caracterizou a Ortodoxia Luterana. Também contribuiu para um tratamento mais científico das questões teológicas. Pelo seu emprego da Filosofia, a Ortodoxia Luterana, de certo modo, está melhor aparelhada para preservar e transmitir a herança bíblica e da Reforma"

(1). As principais características da Ortodoxia podem ser destacadas em cinco itens:

1. Unidade doutrinária

A familiaridade com os escritos de Lutero e a lealdade dos teólogos fez com que os ortodoxos permanecessem unidos na Controvérsia Quenótica (1619-27).

2. Polêmicos

Os ortodoxos são chamados de "polêmicos" porque lutavam contra os erros doutrinários que apareciam. Bellarmino, teólogo católico, foi muito polemizado pelos ortodoxos.

3. Catolicidade

Negavam o princípio do tradicionalismo. Mas, ela ocupou grande destaque na Ortodoxia Luterana. A dogmática da Ortodoxia clássica caracterizou-se pelo copioso emprego do material patrístico e da escolástica. Agostinho exerceu mais forte influência neste setor.

4. Estudo de Lutero

Estudar os escritos de Lutero e as Confissões Luteranas foi uma preocupação constante dos ortodoxos o que também fez com que permanecessem unidos.

5. Exegese e Dogmática

As obras dogmáticas eram baseadas na Escritura, como único fundamento e, ao mesmo tempo, a interpretação da Bíblia era influenciada pela concepção dogmática do todo e pela atitude polêmica.

"As exposições dogmáticas ortodoxas luteranas seguem a ordem da história da salvação: criação, queda, redenção e escatologia são os pontos principais que sempre aparecem em tais apresentações. A doutrina da Palavra e a doutrina de Deus são analisadas em primeiro lugar. A ordem comum nos vários loci geralmente inclui o seguinte: a Escritura Sagrada, a Trindade, Criação, Providência, Predestinação, Imagem de Deus, Queda do Homem, Pecado, Livre Arbítrio, Lei, Evangelho, Arrependimento, Fé. Boas Obras, Sacramentos, Igreja, os Três Estados e Escatologia".

(2) O método dogmático era de reproduzir a infinita riqueza da revelação bíblica. Como resultado desta atitude, suas mentes estiveram abertas a todos os pormenores da tradição que lhes tinha sido transmitido mas este método também conduziu a uma divisão infindável de questões, tornando difícil distinguir entre o essencial e o secundário.

II — PERÍODOS DA ORTODOXIA

Cronologicamente, o período da Ortodoxia Luterana estendeu-se desde o escrito da Fórmula de Concórdia, quando as posições confessionais luteranas foram estabelecidas, até o tempo de David Hollaz, no século XVIII.

Pode-se dividir este período em três fases:

1 — Fase áurea da Ortodoxia

A primeira fase estende-se desde o tempo da Fórmula de Concórdia até a segunda década do século XVII. Foi um tempo de formação teológica e pode ser chamado período áureo da os que estruturaram a Fórmula de Concórdia. O período é Ortodoxia. Os representantes deste período, na sua maioria, foram marcados por um espírito agressivo e um ensino criativo de questões dogmáticas. A Dogmática era baseada no Loci Communes de Melanchton e permaneceu em uma fase rudimentar de desenvolvimento. Os principais ortodoxos deste período são: Chemnitz, Heerbrand, Selnecker e Hunnius.

2 — Alta Ortodoxia

O segundo período desenvolveu-se durante os dias da Guerra dos Trinta Anos. Prevalece o método loci. As posições doutrinárias luteranas são estabelecidas e fortificadas em controvérsias contra católicos, calvinistas e outras antítese. A Filosofia influenciou a apresentação da Teologia. Os mais importantes teólogos desta fase são: Hutter, Mentzer e Gerhard.

3 — Fase de Prata

Tem início no final da Guerra dos Trinta Anos. O sincretismo foi muito atacado pelos ortodoxos. As obras dogmáticas se caracterizam de modo similar pela sistematização mais rígida da tradição ortodoxa, bem como pela definição lógica mais incisiva dos vários problemas doutrinários. O Pietismo começa a influenciar, principalmente nos últimos ortodoxos.

Principais teólogos: Calov, König, Quenstedt, Baier e Hollaz.

III — ORTODOXIA E SOCIANISMO

A Ortodoxia Luterana lutou contra a propagação de um ponto de vista antitrinitário: o Socianismo.

Iniciado na Polônia, o Socianismo, por sua crítica radical aos dogmas aceitos, preparou o caminho para a teologia racionalista da era do Iluminismo e também prenunciou o conceito moderno de religião em muitos sentidos. Baseado em vários pontos da herança Nominalista da Baixa Idade Média e do Humanismo da Renascença, o Socianismo insistia que dogma, ou o conteúdo da Escritura, cuja autoridade era aceita de maneira formal, deve justificar-se perante o tribunal da razão humana. Repudiam, por causa disso, as doutrinas que julgavam opostas à razão. Em sua exposição da Escritura estabeleceram, como critérios básicos, a inteligibilidade racional e a utilidade moral. Negavam a divindade de Cristo e do Espírito Santo. Seguiam o Pelagianismo, negando a imortalidade do homem e do pecado original. Negavam, também, o sacrifício vicário de Cristo, dizendo que a morte de Cristo na cruz apenas prova ser Jesus obediente, e sua ressurreição confirmou sua missão divina.

"Ao refutar estas ideias, os teólogos ortodoxos apresentavam os seguintes princípios: há uma justiça 'essencial' em Deus, segundo o qual o homem pecador deve ser punido. Mas por ser ele também misericordioso, Deus deseja poupar a espécie humana. Por este motivo, Cristo veio para trazer mérito e oferecer satisfação. O castigo que o pecado merece foi transferido a Cristo; como resultado, Deus pode receber os pecadores por graça sem violar sua justiça. Em vista disso, temos esta maravilhosa combinação de justiça e misericórdia divina. Cristo era apresentado como Mediador entre Deus e os homens, libertando-nos da maldição da lei, da ira de Deus e do juízo eterno"

IV — AS CONTRIBUIÇÕES DA ORTODOXIA

Neste capítulo apresentamos o que de melhor o período da Ortodoxia nos legou. Estudamos as contribuições de Martin Cliemnitz, John Gerhard e Abraham Calov. Enfocamos, também à nível de loci, as contribuições nas doutrinas das Sagradas Escrituras como Palavra de Deus, a doutrina de Deus, a doutrina da Criação e queda do homem, a doutrina da Providência e Predestinação, a doutrina do Livre Arbítrio, a doutrina da Lei e do Evangelho, a doutrina da Fé e das Obras, a doutrina dos Sacramentos, da Igreja e Escatologia. Também, destacamos as contribuições na ciência, na hinologia e devocionais, na arte e na política. 

1 - Contribuições dos principais teólogos

a) Martin Cliemnitz (1522-86)

Cliemnitz é reconhecido como defensor do conteúdo da Reforma. Após estudar Lutero, lutou contra as ideias dos reformados. Sua principal obra foi Examen Concilii Tridentini, que apareceu em 4 volumes entre 1565-73. Neste livro, fez um estudo crítico do Concilio de Trento à base da teologia bíblica e da história. Atacando as ideias de Hosius e Andradius, com. Base numa sadia exegese e com uma base filosófica e histórica, esta obra causou um tremendo impacto na igreja romana porque afirmava que o Concilio de Trento rompia com a teologia dos

Apóstolos e com a igreja Católica. Sua segunda obra, Loci Theologiei, publicada depois de sua morte, está baseada no Loci Communcs de Melanchton. Marca um estudo inovado na teologia luterana, onde apresenta material bíblico vastíssimo para descrever artigos de fé cristã. Aparecem exegeses de temas como fé, graça, justificação, batismo, santa ceia, trindade, etc.

Sobre cristologia, escreveu De Duabus Naturis; a maior dogmática sobre a pessoa de Cristo. Estabelece, nesta dogmática, em primeiro lugar, que a doutrina luterana sobre Cristo está de acordo com os credos e os pais da igreja. Em segundo lugar, este livro oferece grande número de estudos pertinentes à sede doctrinae de acordo com Colossenses 1 e Filipenses 2. Em terceiro lugar, apresenta sistemática e convincente a doutrina sobre

Cristo por inteira. Um quarto livro, o qual foi terminado por Leyser e Gerhard, intitulado Harmonia Quatuor Evangelistarum. É um estudo de concordância dos quatro evangelhos e muito contribuiu para a exegese. Tornou-se popular com a utilização na Bíblia Ilustrada de Calov.

Depois de Lutero, Chemnitz é o mais importante teólogo da história da igreja luterana.

b) Johann Gerhard (1582-1631)

Geralmente, é considerado o terceiro mais proeminente teólogo luterano, depois de Lutero e Chemnitz. Foi pastor em Jena. Escreveu vários livros, todos de cunho teológico. Destacam-se as exegeses, teologia dogmática, literatura devocional, histórica e polêmica. Grande número de seus sermões foram publicados. Sua maior e melhor obra é Loci Theologici, onde retrata uma piedade evangélica, um excelente estudo sistemático e a utilização da filosofia de acordo com princípios aristotélicos (causa cfficiem, causa formalis, causa materialis e causa finalis). É influenciado por Chemnitz. É o mais notável dogmático da Ortodoxia Luterana. Sua Confessio Catholica procurou refutar as objeções da teologia católica romana com citações tomadas da própria tradição da igreja de Roma. As populares Meditationes Sacra são devocionais; Postula são tratados homiléticos e Schola Pietatis são debates e uma pormenorizada exposição da ética e da vida da fé.

c) Abraham Calov (1612-86)

Foi o mais brilhante teólogo do período da prata da Ortodoxia

Luterana. Versado em todas as áreas do conhecimento humano, foi um ortodoxo inflexível e seu zelo pela pureza do evangelho e a glória de Deus dominou toda a sua vida ativa.

Foi um dos maiores escritores da Ortodoxia Luterana e escreveu sobre Filosofia e Teologia, principalmente. A sua obra mais importante foi sua Bíblia Ilustrada (1672-76), grande comentário de toda a Bíblia. Outra obra foi o Systema Locorum Theologicorum, em 12 volumes. Nos primeiros volumes discute prolegomena, revelação e Escritura como princípios de uma dogmática ortodoxa. Também, escreveu Apodixis Articulorum Fidei, pequena dogmática onde apresenta um sumário da teologia de outros ortodoxos. Isagoges ad SS. Theologium contribuiu para o desenvolvimento da prolegomena.

Calov é muito utilizado por dogmáticos luteranos do século passado. O trabalho por ele realizado contribuiu muito para o desenrolar posterior da igreja luterana.

2 — Contribuições na Teologia

É nesta área que os pais ortodoxos legaram sua maior contribuição. Com uma unidade doutrinária, os ortodoxos puderam sistematizar o estudo teológico, o que faz surgir os famosos loci, ou melhor, a Dogmática propriamente dita.

Vivendo em meio a controvérsias e, também, guerras, tiveram que estudar a fundo as questões controvertidas e, com muita fé, permaneceram fiéis à Escritura, com uma sadia exegese e interpretação, com um grande estudo dos pais da igreja, principalmente Agostinho e fundamentando-se na teologia de

Lutero. Essa sistematização da doutrina cristã foi tão bem estudada e, por isso, ela é ainda válida hoje, em suas questões fundamentais. E são estas questões fundamentais que queremos retratar agora. Colocamos, então, as principais características da teologia ortodoxa, fruto de muito trabalho e que Deus, através do agir do Espírito Santo, agia nestas pessoas.

a) A Doutrina das Sagradas Escrituras

O objeto de estudo da teologia ortodoxa foi a Escritura Sagrada. Era considerada o único princípio da teologia, ou seu pressuposto fundamental. Por isso, a Bíblia deveria ser seguida mesmo quando parecia opor-se à razão, bem quando parecia contradizer a tradição eclesiástica. Com isso, negavam o princípio da tradição católico romana. A Palavra de Deus é vista como revelação divina. "A revelação é definida como uma ação externa de Deus por meio da qual ele se revela aos seres humanos através de sua Palavra e torna conhecida a eles a sua salvação" (4). Essa revelação é dada internamente, por inspiração imediata ou iluminação, como no caso dos profetas e apóstolos ou, ela nos é dada externamente, através da Palavra pregada ou lida.  Diz Gerhard (Loci Theologicum, Cotta II ed. 18):

"A Escritura nada mais é do que a revelação divina englobada nos escritos sagrados. Por esta razão a Palavra revelada de Deus e a Escritura Sagrada não diferem essencialmente, visto que os santos homens de Deus englobaram essas mesmas revelações divinas nos seus escritos" (5).

Para explicar a frase "A Escritura é a Palavra de Deus", utilizaram a terminologia filosófica da época. Distinguia a Escritura em matéria e forma. "A matéria da Escritura é constituída pela palavra, pelas letras e pelas frases que nele estão contidas. Neste sentido, a Escritura não é nada diferente de qualquer livro. A forma é o significado inspirado, o sentido divino da Escritura, aquilo que Quenstedt chama de Sapientia Dei, a mens Dei, o consilium Dei" (6). O conceito aristotélico dotou a concepção ortodoxa da Escritura com uma qualidade ausente no biblicismo de anos anteriores, que frequentemente atribuía dignidade à interpretação racional, literal. Os princípios exegéticos eram os seguintes:

a. Escritura é clara em si (per si evidens);

b. Ela é sua própria intérprete (sui ipsis interpres);

c. É a única e suficiente norma de fé;

d. As passagens difíceis devem ser interpretadas com a ajuda das mais claras (analogia fidei);

e. Há um só sentido original (sensus literalis);

f. Sentido alegórico só se fosse no original (sensus literalis).

Com os pressupostos de autoridade e inspiração da Palavra, rejeitaram o espiritualismo, afirmando que o Espírito não age ao lado da Palavra ou independentemente dela, mas com e em a Palavra divina quando é ouvida e lida.

b) A doutrina de Deus.

Sobre a doutrina de Deus escreve Hägglund:

"Em certo sentido, toda a posição dogmática ortodoxa constituiu uma 'doutrina de Deus'. A doutrina da criação e o plano de salvação relacionam-se com a exposição do ser de Deus (a Trindade, Cristologia, etc.) como sendo descrição da vontade de Deus, manifestada em suas obras. Também se faz referência a Deus, é a causa de nosso conhecimento dele. Assim como as coisas do mundo em torno de nós influenciam o intelecto e desta maneira evocam conhecimento sensitivo e conceptual, assim também é a manifestação de Deus feita por ele mesmo — seu aparecimento em suas palavras e obras — e causa direta de nosso conhecimento dele. Esta ideia básica era pressuposto fundamental da teologia ortodoxa" (7)

O homem, para os ortodoxos, chega a conhecer a Deus através de um conhecimento congênito de Deus, que foi colocado no coração do homem, na criação. E, também, através de um conhecimento adquirido através da observação das coisas criadas. Quanto aos atributos divinos, existem os internos, os que são intrínsecos à própria divindade (por exemplo, que Deus é um ser espiritual e invisível, eterno e onipresente) e os atributos externos, aqueles que se manifestam em relação à criação (a onipotência, a justiça e a veracidade de Deus).

A Trindade foi descrita assim como estava contido no Credo Atanasiano: que o Pai não é gerado nem criado, que o Filho é gerado pelo Pai e, o Espírito não é gerado nem criado mas procede do Pai e do Filho. Esta questão foi muito estudada para arrebatar o Socianismo que surgiu na época.

A Cristologia, assim como na época da Reforma, foi estudada e analisada pelos ortodoxos. A principal questão era: como unir a natureza divina e humana de Cristo. Responderam a questão "afirmando que 'o verbo se fez carne' não deve entender-se como significando que a carne transformou-se em natureza divina. Tampouco a divindade manifestou-se em forma corporal como se isto fosse uma forma de revelação temporária. Mas a Unio personalis significa que o Logos, segunda pessoa da Divindade, assume a natureza humana". (8)

Distinguem também o estado da humilhação e exaltação de Cristo. Falou-se em três ofícios de Cristo, o profético, o sacerdotal e o real. Estes três ofícios não se referem a etapas separadas da obra de Cristo; antes, designam diferentes facetas da mesma obra da salvação.

c) A doutrina da criação e da queda do homem

A concepção ortodoxa foi de que Deus criou ex nihilo tanto as coisas visíveis como as invisíveis.
O homem foi criado à semelhança de Deus e a imago Dei é definida como uma forma original inata de justiça e santidade. A queda, como transgressão de Deus, trouxe a perda da justiça original. Por isso, entrou no mundo uma condição de culpa e uma inclinação para o mal através do pecado original. Volta-se a Deus somente pela fé na obra redentora de Cristo.

d) A doutrina da Providência c Predestinação

Por providencia entendiam a criação contínua. Deus não apenas criou as coisas no início; também as preserva em sua existência contínua. Por isso, tudo que ocorreu no mundo está subordinado à supervisão e direção direta de Deus; nada ocorre sem sua vontade.

Quanto à predestinação, reafirmaram o que estava na Fórmula de Concórdia. Diz-se que a predestinação, ou eleição, só se refere aos que chegam a crer em Cristo e que permanecem nesta fé até ao fim.

e) A doutrina do Livre Arbítrio

Colocaram que ao homem falta o livre arbítrio. Encontra-se cativo como consequência do pecado e, portanto, é incapaz de fazer o bem espiritualmente; não pode, como resultado, cooperar em sua conversão. Aceitou-se a posição estabelecida na Fórmula de Concórdia.

f) Doutrina da Lei e Evangelho

Para os ortodoxos é em virtude da operação da Lei e do Evangelho que o homem pode ser convertido e passar da morte e da ira à vida. Isso também se denomina arrependimento. A definição de Lei era que ela é eterna e imutável sabedoria e regra de justiça válida perante Deus. A definição de Evangelho que ele, como proclamação da completa redenção de Cristo, é mensagem consoladora e edificante. Neste sentido, a Lei é a palavra que ameaça, acusa e condena, enquanto que o Evangelho consola, edifica e salva. O arrependimento foi posto ao lado da conversão, a experiência através da qual a fé é acesa e o homem passa da ira para a graça. Mais tarde foi acrescentada várias ações pelas quais o Espirito Santo aplica a salvação no indivíduo.

g) Doutrina de Fé e Obras

A distinção entre fé e obras foi evidenciada. A fé é o instrumento para a justificação e ela se dirige à graça divina prometida em Cristo. Os frutos da fé são as boas obras. A finalidade delas é a de glorificar a Deus e de promover o bem-estar do próximo. O homem não é declarado justo por causa de suas obras, pois é justificado tão somente pela fé que se apega à expiação de Cristo e à misericórdia de Deus nela revelada. A conexão entre fé e obras é a de serem estas frutos da fé.

h) A Doutrina dos Sacramentos

Os sacramentos foram interpretados de acordo com o ponto de vista dos luteranos mais conservadores e com a Fórmula de Concórdia. Eram vistos como dons celestiais que fortificam a verdadeira fé no evangelho.

i) A Doutrina da Igreja

Seguiam a definição da Reforma, a igreja como "a congregação dos santos e crentes", que a Palavra divina é pregada em pureza e os sacramentos são corretamente administrados.

Dentro desta igreja, distinguiam-se três ofícios:

1. ofício da pregação;

2. autoridade política;

3. matrimônio.

A primeira das três se destina a conduzir o homem à salvação eterna, a segunda a manter a ordem e a proteger a sociedade, a terceira, a de aumentar a raça e a providenciar apoio mútuo.

j) A Doutrina da Escatologia

Esta doutrina ocupava lugar importante na dogmática ortodoxa. Ensinavam que tanto o homem (microcosmo) como o mundo (macrocosmo) encaminhavam-se para um fim. E, no fim, ocorrerá a ressurreição, seguida do juízo final, quando cada tornem terá que enfrentar novamente as ações de sua vida na terra. Na existência eterna, que seguirá o fim dos tempos, os que praticaram o mal receberão a morte eterna, e os que fizeram o bem herdarão a vida eterna.
 
3 — Contribuições na Ciência
A Ortodoxia Luterana marca o início da ciência moderna.
Durante o século XVI, a concepção grega de mundo dominava. A ideia desenvolvida durante a Idade Média, que a terra é o centro do universo porque a teologia cristã determinava uma teoria geocêntrica, onde o sol e os planetas é que giravam em torno da terra e que a ação divina estava centrada na terra, modifica-se, tornando-se heliocêntrica. Nicolaus Copernicus (1473-1543) dá início a esta concepção heliocêntrica mas tem que se retratar devido esta concepção medieval.
Mas Johannes Kepler (1571-1630) e Galileo Galilei (1564-1642) derrubam esta concepção medieval e provam, através da utilização do telescópio, a teoria heliocêntrica do universo.
Com essa nova concepção do universo, destrói-se a síntese aristotélica de mundo e toda a feitiçaria criada na Idade Média, na qual o mundo era o centro das atividades diabólicas.
Isaac Newton (1642-1727) publica uma vasta obra intitulada Philosophia naturalis principia mathematica. Esta obra, baseada na lei da gravidade, fala de uma força-motora que move o universo. Estabelece a metodologia da ciência moderna, baseada em três princípios:
1. insistência numa observação experimental;
2. lei da simplicidade;
3. extensivo uso da matemática, expressando a lei universal da gravidade como fonte.
Com toda essa mudança, o mundo inicia uma nova vida. O Deus que castiga e que este mundo é diabólico, por causa das bruxarias, deixa de existir por ser Deus bondoso, que age no mundo e que motiva as pessoas a viver neste mundo.
1 — Contribuições na Literatura Devocional e Hinos
Assim como a Ortodoxia produziu obras teológicas, esta mesma Ortodoxia produziu também grandes poetas e grande literatura devocional que expressam a fé cristã que dominava a vida das pessoas. É neste período que, sem dúvida, desenvolve-se o período áureo da hinologia luterana. Surgem grandes escritores como Philipp Nicolai, Johann Hermann, Johann von Rist e Paul Gerhardt.
Nicolai (1556-1608) foi pastor e teólogo na Westfalia. Viveu num período de peste. Sepultou mais de 1300 pessoas em seis meses. Heimann (1585-1647) foi pastor em Koeben durante a
Guerra dos Trinta Anos. Durante seu ministério, sua cidade foi queimada, saqueada quatro vezes e foi devastada por pestes. Rist (1607-67) viveu durante a Guerra dos Trinta Anos quando sua casa foi saqueada. Escreveu 680 hinos, dos quais a maioria deles de conforto nas horas difíceis. Mas foi Paul Gerhardt (1607-76) o maior hinologista da época. Nasceu na Saxônia. Tornou-se pastor mas, numa discussão entre luteranos e calvinistas, onde recusou um compromisso com a posição luterana, teve que deixar de utilizar o púlpito. Precederam-no na sua morte a esposa e os quatro filhos. Acometido por toda esta aflição, Gerhardt escreveu 134 hinos em alemão e 14 em latim, inspirados em sua experiência, nas calamidades sociais, etc. Fala, em seus hinos, da fé em Deus, nas obras divinas, na natureza, na Igreja e na Escritura.
O profundo sentimento religioso do tempo da Ortodoxia também pode ser visto nas obras devocionais. Esta literatura consiste em edificante e apresentação popular da fé cristã para ser usada individualmente ou em grupos, em forma de oração e meditação. Esses livros eram escritos para soldados, viajantes, futuras mães, etc. Eram usadas em determinadas horas do dia.
A mais famosa obra devocional do século XVIII é de Johann Arndt (1555-1621). Também, podemos incluir Lewis Bayly (1565-1631), Johann Gerhard, Johann Hermann e Heinrich Mueller(1631-75).
5 — Contribuições na Arte
No mesmo período que ocorreu a Ortodoxia, desenvolveu-se a arte barroca na Europa. Caracteriza-se pela construção de palácios, monumentos e igrejas. Mas, a Ortodoxia influenciou muito mais na música. Durante este período surgem dois grandes compositores: George Friderich Händel (1685-1759) e Johann Sebastian Bach (1685-1750). Händel, compositor saxão, compôs várias grandes obras religiosas: Messias e Judas Macabeo e outras. O estilo dele era uma combinação da música alemã, francesa e italiana. Os temas de suas composições estavam refletidas sobre a vida dos ingleses.
Bach nasceu numa família totalmente voltada à música, na Alemanha. Escreveu músicas sacras e seculares, corais e cantatas, solos para flauta, violoncelo, órgão e harpa. Sua música secular refletia louvor e amor pela vida e paz, fruto das aulas que dava. Mas a verdadeira vocação musical estava refletida sobre o serviço a Deus. Vários motivos religiosos o levaram a escrever música sacra. As obras Sinfonia em B Menor e Paixão Segundo São Mateus foram frutos da fé de um verdadeiro crente que manifestava a glória de Deus.
6 — Contribuições na Política
A Ortodoxia proporcionou a criação de vários estados absolutos. Os principais absolutistas partiram do pressuposto de que eram detentores de direitos divinos na terra e, assim, criaram seus estados. Isto aconteceu na França, com Luis XIV, na Prússia, com Guilherme Frederico, I e II. Também, os czares da Rússia, como Pedro, o Grande.
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Fonte de onde extraímos este material: Revista Semestral de Teologia - Faculdade de Teologia do Seminário Concórdia - São Leopoldo, RS. 89-01 / ANO 49 - Clouis Jair Prunzel - Aluno do 2° Teológico. Título Original: OS ALUNOS ESCREVEM - A Ortodoxia Luterana.
 
Fontes utilizadas pelo autor: NOTAS: 1) Hägglund. História da Teologia, p. 260, 1. / 2) Idem, ibidem, p. 262. / 3) Idem, ibidem, p. 279. / 4) Preus. A Palavra de Deus na teologia da ortodoxia luterana. / 5) Idem, ibidem, p. 3. / 6) p. 2. / 7) Hägglund, op. cit., p. 266. / 8) Hägglund, op. cit., p. 268. BIBLIOGRAFIA: CLOUSE, Robert. The Church in The Age of Orlodoxy and the Enlightenment. St. Louis, Missouri, Concórdia, 1980. HÄGGLUND, Bengt. História da Teologia. Porto Alegre, Concórdia, 1986. PREUS, Robert. The Theology of Post-Reformation Lutheranism. S. Louis, Concórdia, 1970.
 
 

 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Venha fazer parte desta obra - Visão de Deus - nossa Missão


Pastoral Maio 2013.

Que a Paz e a Graça do nosso Senhor Jesus Cristo esteja com vocês!

Visão de Deus, nossa Missão.

 Temos bons planos de expansão da IELM no Reino de Deus. O Senhor tem nos dado uma visão missionária, comprometida com a teologia da Cruz, que é ampla e dinâmica, onde privilegia o ensino da sã doutrina cristã no modo tradicional do luteranismo confessional ortodoxo , sem, contudo tornar-se pesado e enfadonho. Nosso trabalho missionário é um “SIM” em alto e bom som ao "Ide" do Senhor (Mc 16.15).


A missão urbana e a plantação de igrejas confessionais não é um processo fácil nem simples, mas se faz necessário mais e mais a cada dia. Nosso propósito é plantarmos igrejas onde possamos envolver cada membro de nossas comunidades no serviço cristão e também na visão que o Senhor tem nos dado.

A evangelização é à base do crescimento do Reino de Deus, e consequentemente da igreja, porém a igreja luterana histórica e confessional, que não partilha da teologia da glória, zela pelo correto ensino, mas tem sofrido justamente por não investir satisfatoriamente na preparação dos seus membros. É comum em algumas comunidades luteranas o pastor ser o "faz tudo". Em alguns casos conhecidos a maioria dos membros nem mesmo aceita a ideia de ter que se envolver em áreas como evangelização, estudo etc... Por que isto? Por pura falta de preparo. E a verdade é esta, como alguém poderá evangelizar sem saber o que dizer, e como dizer? Como alguém poderá envolver-se com evangelização se muitas vezes ele próprio não tem certeza de sua salvação?


A IELM enquanto igreja luterana tradicional e histórica quer fazer a diferença. Queremos equipar nossos membros com material prático de evangelização. Queremos que cada membro de nossas comunidades seja não somente mais um número na estatística, mas um evangelizador para o Reino de Deus. Nenhum outro propósito, nenhuma outra prática é mais importante que anunciar Jesus como Senhor e Salvador.



Você é pastor luterano, ou almeja o Santo Ministério? Entre em contato e venha fazer parte desta visão. Seja um obreiro fiel plantando igrejas, compartilhando Jesus e colaborando para o crescimento do Reino de Deus.


Rev. Ari Fialho Júnior
Igreja Evangélica Luterana Missionária
Soli Deo Gloria!


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Pergunta feita por leitor do Blog ao Rev. Ari sobre Tribulação e Milênio, e qual a diferença entre Luteranismo e Arminianismo. Acompanhe a resposta:


Leitor em Dúvida
 Graça e paz Reverendo Ari, gostaria que me respondesse as questões abaixo:
 
A. Haverá a grande tribulação e nela os cristãos serão perseguidos, torturados e mortos pelo anticristo e seus seguidores, ou os cristãos serão arrebatados antes disso ou protegidos por Deus de forma milagrosa?
 
B. Qual as diferenças entre a Teologia Luterana e a Teologia Arminiana?
 
 
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Rev. Ari Fialho Júnior
 
Olá Leitor em Dúvida,
 
Paz e Graça em Cristo Jesus, Senhor e Salvador de todo aquele que nEle crê!
Obrigado por sua participação em nosso blog.
 
É sempre uma satisfação poder servir a Deus, seja pregando o Evangelho Eterno a toda a criatura, ou simplesmente respondendo perguntas pertinentes ao Reino de Deus.
 
As perguntas que você fez são de cunho doutrinário. Vale lembrar que existem várias vertentes doutrinárias que discorrem sobre o mesmo tema, porém com interpretações diferentes. As respostas que trarei a você não expressam apenas o ensinamento Luterano, mas também aquilo em que eu pessoalmente creio ser a correta exposição das Sagradas Escrituras sobre o assunto em questão. Portanto, ao ler minhas respostas lembre-se que estou respondendo não somente como Teólogo Luterano, mas também como cristão verdadeiro que está convicto de que aquilo que aprendeu está em total concordância com a Santa Palavra de Deus. (a Ele toda a Honra e Toda a Glória!).

Procurarei ser sucinto nas respostas, mas por tratar-se de um assunto extremamente amplo temo ter que me estender um pouco.
        Não há livro mais esclarecedor do que a Santa e Imutável Palavra de Deus, a Bíblia. Entretanto, apenas para facilitar o entendimento, em alguns pontos transcreverei trechos dos livros explicativos sobre doutrinas bíblicas. Tais livros são oficialmente reconhecidos por nossa denominação como a correta exposição das Sagradas Escrituras. Ao final das citações colocarei as fontes.

Vamos ao que interessa:
 
Leitor
Sua primeira pergunta:

A. Haverá a grande tribulação e nela os cristãos serão perseguidos, torturados e mortos pelo anticristo e seus seguidores ou os cristãos serão arrebatados antes disso ou protegidos por deus de forma milagrosa?





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Rev. Ari
O propósito inicial e final da Palavra de Deus é nos ensinar sobre o amor do Senhor por nós, e apresentar seu plano de Salvação para a humanidade, que na pessoa do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, se consolidou na morte de Cruz e ressurreição do Senhor. E para completar nossa alegria, constatamos claramente que todo o verdadeiro ensino bíblico também nos serve para Exortação, Consolo, e Edificação. Assim sendo, qualquer ensino que pretenda ter o status de Ensino Bíblico, deve inevitavelmente exortar, consolar e edificar, mas acima de tudo deve ser claro, coerente, e estar em completa conformidade com as Sagradas Escrituras. 

Resposta direta a sua pergunta: Não haverá a suposta Grande Tribulação, e também não haverá o suposto Milênio, simples assim.

Por que? Porque doutrinas relativamente novas como Milenismo (quiliasmo), e Tribulacionismo, são doutrinas que não oferecem consolo, antes o contrário, servem apenas para penalizar ainda mais as almas angustiadas e inseguras. Tais doutrinas não servem a Deus e para piorar provocam dúvidas nos irmãos mais fracos na fé. Sabemos bem quem é o verdadeiro autor destas doutrinas.

O que está em questão aqui é o Poder de Deus. A Obra Redentora de Cristo. A segunda vinda do Salvador.

A triste verdade é que por conta da soberba, o ser humano, do "alto" de toda a sua "sabedoria", não pode simplesmente aceitar a Palavra de Deus como Ela é. Não consegue acreditar na simplicidade do plano da Salvação Eterna. Não, para o homem é necessário mais do que a morte e ressurreição do Senhor Jesus, é necessário que ele mesmo, o próprio homem faça a sua parte, promova sua própria salvação. Mas como cura d'almas eu afirmo, isto não passa de presunção e tremenda arrogância da parte do ser humano, que não satisfeito por não poder se "auto salvar", decidiu então criar algumas pseudo doutrinas bíblicas e colocar alguns "degraus" na redenção da humanidade, de modo que agora todos terão uma pequena participação na obra da salvação, nem que seja o mérito de ter sofrido por amor do Senhor. É triste isto, mas arderão no fogo do inferno todos os que permanecerem neste pensamento.

Na explicação abaixo você verá que nem mesmo entre os que ensinam sobre Tribulação há consenso. Antes o contrário, há divisões e contendas entre eles por causa do que eles afirmam ser doutrinas bíblicas.


Tribulacionismo:


Os teólogos que crêem e ensinam sobre o tema se dividem em três diferentes correntes:


1) Pré-Tribulacionistas: Os defensores desta doutrina acreditam que a igreja não passará pela tribulação, pois será arrebatada antes que ela se inicie(Ap.3:10; Rm.5:9; ITs.1:10;5:9)


2) Tribulacionistas: Os defensores desta opinião acreditam que a igreja vai passar pela primeira metade da tribulação, e será arrebatada no meio dos dois períodos de três anos e meio cada. Seus defensores citam At.14:22 para fundamentar esta opinião.


3) Pós-Tribulacionistas: Estes acreditam que a igreja passará por todo o período da tribulação, e será arrebatada apenas após a tribulação, por ocasião da segunda vinda de Cristo. Eles não distinguem a segunda vinda em duas fases.
Os três tipos de defensores da tribulação concordam e discordam entre si no que diz respeito a salvação neste período, visto que segundo seus ensinamentos o Espírito Santo já terá se retirado da terra. Por conta disto uns afirmam que haverá salvação e que esta se dará pelo esforço de cada um (boas obras - esqueceram de Ef 2.8-9)..., outros afirmam que será por fé e graça (como assim? Mesmo sem o Espirito Santo presente?), enfim, estes erros e confusões ocorrem justamente porque tais doutrinas NÃO SÃO VERDADEIRAMENTE bíblicas.

Para muitos a tribulação toma sentido quando analisado a luz da outra suposta doutrina bíblica chamada Milenismo, pois alguns dos seguidores destas duas doutrinas crêem que logo após a suposta grande tribulação acontecerá o suposto Milênio.

Estranhamente também aqui há três tipos de correntes doutrinárias que de um jeito ou de outro aceitam ou rejeitam o Milênio, e ao mesmo tempo discordam entre si:
 
1) Amilenistas:
 
2) Pré-Milenistas:
 
3) Prós-Milenistas:
 
Assim como os Tribulacionistas, os Milenistas passam longe da realidade bíblica. Perdidos em seus infindos debates esquecem que o Senhor nos chamou para pregar as boas novas, para levar a Salvação, para apresentar Jesus Cristo como nosso verdadeiro Salvador.

Mas o que a Bíblia diz sobre isto?

    "A Bíblia não ensina o quiliasmo (milênio). - Os textos veterotestamentários citados a favor do milênio são mal entendidos e mal aplicados. Não falam nem de um reino visível de Cristo na terra, nem de um crescimento exterior e condição florescente da igreja, senão que descrevem, em linguagem figurada, a natureza e condição espirituais da igreja neotestamentária. O que lemos em Isaías 2.2,3, se cumpriu e está sendo continuamente cumprido quando pessoas vêm a Cristo, como aprendemos em Hebreus 12. 22. A paz de que fala Isaías (Isaías 2.4; 9.4,5; 11.6-9) veio ao mundo quando nasceu o menino Jesus (Isaías 9.6; Lucas 2.14), e continua sendo proclamada no evangelho da paz (Efésios 6.15), e é dada a quantos creem em Jesus (João 16.33). A referência em Joel 3.1 e seguintes cumpriu-se em Atos 2.16, e Amós 9.11,12 está sendo cumprido pela entrada dos gentios na igreja (Atos 15.13 e seguintes)  


    Embora não haja tal coisa como o milênio, é necessário discutir a questão, porque há muitos que esperam um milênio. Diz a Igreja Luterana na Confissão de Augsburgo: "Também condenam outros, que agora estão difundindo certas opiniões judaicas, que antes da ressurreição dos mortos os justos tomarão posse do reino do mundo, sendo os ímpios eliminados em toda a parte" (Art. XVII, 5). Nessas palavras a Igreja Luterana rejeita o quiliasmo, segundo o qual antes da vinda de Cristo para o juízo, o Senhor estabelecerá um reino milenar na terra. Os quiliastas, todavia, não estão de acordo entre si quanto ao caráter geral e quanto a numerosos pormenores desse reino. De um modo geral, podemos dividi-los em Pré-Milenistas e Pós-Milenistas (Cf. Concordía Cyclopedia, verbete "Millennium", páginas 471-474).

 
Amilenistas: Os que defendem esta posição não creem na literalidade do reino milenial. Para eles o milênio é uma realidade puramente espiritual, que se estende do primeiro advento ao segundo advento de Cristo, período este que já se completou quase 2.000 anos, e que culminará na grande tribulação para restauração da igreja e o progresso do testemunho do evangelho.
 
 
Pós-Milenistas: Sustentam que efetivamente haverá um milênio, mas que Cristo voltará visivelmente não antes, mas depois do milênio. Crêem que por mil anos, ou por um período de tempo indefinido, a igreja estará em posição florescente e dominadora. Através de agências cristãs o evangelho gradativamente permeará o mundo inteiro, tornando-se mais eficaz do que atualmente na vida social, comercial, política e internacionalmente. Todo o Israel será convertido e grande número de pessoas entrará na igreja. Depois desse período de aceitação universal do evangelho, haverá apostasia da fé, e as forças do mal tentarão destruir a cidade amada. Mas não terão êxito, pois repentinamente virá o Senhor, para julgar os vivos e os mortos.
O texto de Apocalipse 20 é geralmente considerado como sendo a prova principal a favor do milênio. Todavia, também esse capítulo está cheio de linguagem figurada, conforme mostra claramente o primeiro versículo. Não existe a mais leve indicação de que os mártires e santos reinarão com Cristo na terra por mil anos (v. 4), pois suas almas reinam com Cristo, e essas almas estão no céu. E tal reinar no céu é prometido ao cristão (2 Timóteo 2.12; Apocalipse 22.5). Os "mil anos" designam um longo período em contraste com "pouco tempo" (v. 3). A prisão de Satanás (v. 2) denota o período da dispensação neotestamentária. Com sua morte Cristo virtualmente libertou  a todos os homens do poder do diabo (Hebreus 2.14,15). Essa libertação é proclamada no evangelho (Atos 26.18), e se torna real para o indivíduo no momento em que crê (Colossenses 1,13,14). A primeira ressurreição é a ressurreição espiritual, quando a pessoa chega à fé (Efésios 2.5,6). O próprio Cristo distingue essa ressurreição (João 5.25) da ressurreição física (João 5.28,29). O "pouco tempo" durante o qual Satanás será solto (Apocalipse 20.3,7-9) refere-se aos tempos perigosos que precedem imediatamente a vinda de Cristo para o juízo (2 Timóteo 3.1-5; Mateus 24). A batalha de Satanás, Gogue e Magogue  contra a cidade querida (Apocalipse 20.8,9) não é batalha física, com todos os petrechos mortíferos da guerra moderna, mas é batalha de natureza espiritual, e consiste nisso: Satanás porá em ordem todas as suas forças, fora e dentro da igreja visível, para atacar e corromper as doutrinas do evangelho, e assim destruir no coração dos homens aquela fé pela qual, unicamente, são e permanecem cidadãos do reino da graça de Cristo e herdeiros da salvação. O que lemos em Apocalipse 20.8 é o mesmo que lemos em Mateus 24.5,24.
 
É verdade que "todo Israel será salvo" (Romanos 11. 26). Mas "todo Israel", nesse verso, é usado no mesmo sentido em que a expressão "plenitude dos gentios" é usada no verso precedente. Assim como nem todo gentio será salvo, tão pouco se salvará todo aquele que é israelita segundo a carne. Mas o número total dos eleitos de Israel será salvo, da mesma forma como será salva a totalidade dos eleitos de entre os gentios. Assim como todos os gentios que serão salvos constituem a "plenitude dos gentios", assim todos os israelitas que serão salvos constituem "todo o Israel" de Deus. Enquanto e até quando Deus junta seus eleitos de entre os gentios, também juntará seus eleitos de entre os judeus. Em Romanos 9.6-12 Paulo ensina claramente que nem todos os que são israelitas segundo a carne também são o Israel que Deus reconhece como seu Israel. Filhos de Abraão são apenas os da fé que Abraão teve (Gálatas 3.7). Apenas esses constituem "todo o Israel" que será salvo.

 
Pré-Milenistas: Falam em uma tríplice vinda visível de Cristo. A Bíblia só conhece duas vindas (Hebreus 9. 28). Ensinam uma primeira e segunda ressurreição física. Cristo nos diz que ressuscitará os crentes no dia derradeiro (João 6.40), e que bons e maus serão ressuscitados simultaneamente (João 5.28,29). Desviam a esperança e a expectativa dos cristãos para um reino terrenal durante o milênio. A Bíblia nos ensina que esperemos o reino dos céus (Atos 14.22; Mateus 5.12; Filipenses 3.20,21). Textos como Mateus 24, 2 Tessalonicenses 2 e 2 Timóteo 3.1-5 improvam o ensino dos Pós-Milenistas. O quiliasmo em todas as suas formas não tem fundamento nas Escrituras e está cheio de graves perigos para os cristãos.


 "Os pré-milenistas ensinam que Cristo virá visivelmente a essa terra antes do milênio e no início dele. Nesta ocasião os santos ressuscitarão (a primeira ressurreição) e reinarão com Cristo na terra durante mil anos. Durante esse tempo Satanás estará acorrentado, a iniqüidade será reprimida, e a justiça e a paz prevalecerão na terra. Todo o Israel e muitos outros se tornarão para o Senhor. Passados os mil anos, Satanás será solto por um pouco de tempo e fará guerra furiosa contra o acampamento dos santos. Mas logo aparecerá o Senhor para julgar o mundo. Então ressuscitarão os outros mortos (a segunda ressurreição), e Satanás, seus anjos e todos os ímpios serão lançados no lago de fogo e enxofre. A terra será renovada e se tornará o lar dos remidos".  


(Sumário da Doutrina Cristã - páginas 281 a 283 - Editora Concórdia 1981 - 2ª ed. Koehler)


Diante de tudo o que expus acima é desnecessário dizer que não somente eu, mas o Luteranismo verdadeiro inteiro rejeita completamente tanto o Tribulacionismo, quanto o Milenismo, além de todas as possiveis doutrinas decorrentes destas. Estas pseudo doutrinas bíblicas nada fazem senão gerar grande confusão em meio a cristandade. Negam a verdadeira interpretação bíblica e atropelam de todo a Obra do Senhor Jesus (a Ele toda a Honra e toda a Glória).  
 


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 Leitor

Sua segunda pergunta:

B. Qual as diferenças entre a teologia Luterana e a teologia Arminiana?
 





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 Rev. Ari


Aqui também para facilitar a leitura dividirei a resposta em várias partes. Veja abaixo os cinco pontos principais do Arminianismo e compare com a Teologia Luterana, que em forma resumida estará exposta logo após cada ponto abordado:
 




1.       VONTADE LIVRE:

O primeiro ponto do Arminianismo sustenta que o homem, mesmo após a queda é dotado de vontade livre de tal modo que ainda que na qualidade de homem natural, espiritualmente morto, possa decidir-se por conta própria se quer ou não optar pela salvação eterna.
 
Teologia Luterana: Rejeitamos este ensino Arminiano. Cremos, Ensinamos e Confessamos que no paraíso o homem foi dotado de vontade livre, mas após a queda esta liberdade perdeu-se juntamente com a perda da “Imago Dei”.  Com a queda o homem não só deixou de ser imagem e semelhança de Deus, como passou a ser imagem do pecado, escravo de Satanás. Com isto perdeu o atributo chamado “Livre Arbítrio”. Nossa doutrina é que o entendimento e a razão do homem são cegos em coisas espirituais, e nada entende ele com suas próprias forças, como está escrito: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las”. Sendo assim, como poderia alguém morto em seus delitos e pecados, decidir-se por algo espiritual como a Salvação Eterna, visto que o homem natural sequer é capaz de entender tais questões?
 
Arminius acreditava que a queda do homem não foi total, e sustentou que no homem, restou "bem" suficientemente capaz de habilitá-lo a querer aceitar Cristo como Salvador. Evidentemente isto não é verdade. Este erro arminianista faz parte da controvérsia Flaciana (1560 – 1575).
 
Teologia Luterana: Rejeitamos este ensino Arminiano. Cremos, Ensinamos e Confessamos que o pecado original é pecado que herdamos de adão, isto é, a completa corrupção de toda a natureza humana, agora privada da justiça original, inclinada para todo o mal e sujeita à condenação. (cf. Sl 51.5; Rm 7.14,18,23; Rm 3,23; Sl 143,2; Gn 8,21; Rm 8,7; Jr 2,22; Ef 2,3; Jo 3,5).
                               
Não somente os assumidamente Arminianos, mas muitos outros grupos negam essa corrupção total: Os Pelagianos, os Católicos, os Metodistas, os Adventistas, a Ciência Cristã, os Mórmons, os Pentecostais, e todos os entusiastas em geral.
 
 
2.       ELEIÇÃO CONDICIONAL
 
Arminius ensinava também que a eleição estava baseada no Pré-conhecimento de Deus em relação àquele que deve crer. Em outras palavras, o ato de fé, por parte do homem, é a condição para ele ser eleito para a vida eterna, uma vez que Deus previu que ele exerceria livremente sua vontade, num ato de volição positiva para com Cristo.
 
Teologia Luterana: Rejeitamos este ensino Arminiano. Cremos, Ensinamos e Confessamos que sendo a fé no Salvador Jesus algo espiritual, torna-se impossível ao homem produzi-la por sua própria vontade e força, pois como dito anteriormente o homem está morto em seus delitos e pecados (Ef. 2,5; Ico 2.6-10,14;), e de modo algum pode entender as coisas do Espírito de Deus.
 
Não existe algo como “fé pré-existente”. Se Deus salvasse o homem tendo como causa algo pré-existente na humanidade, então a salvação já não seria pela graça, mas por mérito de cada individuo. O máximo que conseguimos por esforço e vontade é adquirir conhecimento intelectual sobre Deus, tal conhecimento, porém em nada nos serve para efeito de salvação. É mister lembrar que Fé verdadeira outra coisa não é senão a operação autentica do Espírito Santo em nossas vidas.

 
3.       EXPIAÇÃO UNIVERSAL
 
Arminius e seus seguidores sustentam que a redenção é geral. Em outras palavras: A morte de Cristo oferece a Deus base para salvar a todos os homens. Contudo, cada homem deve exercer sua livre vontade para aceitar a Cristo.
 
Teologia Luterana: Rejeitamos este ensino Arminiano. Cremos, Ensinamos e Confessamos que embora acertadamente se ensine que Jesus morreu por toda a humanidade e quer seriamente que todos sejam salvos, nossa justiça perante Deus consiste no fato de que Deus nos perdoa os pecados por mera Graça, sem qualquer obra, mérito, decisão própria, ou dignidade nossa precedente, presente ou consequente, nos dá de presente e imputa a justiça da obediência de Cristo, justiça em razão da qual somos aceitos por Deus na graça e considerados justo.
 
“Não somente os Arminianistas, mas todos os Pelagianistas e Semi-Pelagianistas munidos de suas várias formas de sinergismos erroneamente crêem que o homem natural pode, com suas próprias forças, voltar-se do pecado ao Salvador, crer nEle e assim ser salvo; ou que pode, em alguma medida, cooperar com o Espírito Santo em sua conversão. Admitem que a redenção se efetuou sem a cooperação do homem, mas insistem que o homem deve contribuir com algo de positivo, por menos que seja, para sua conversão, e que, a menos que faça isto, não pode ser convertido. O sinergismo é doutrina falsa. Resulta de tentativas no sentido de explicar porque alguns são convertidos e outros não. Veremos que conquanto o homem possa ser convertido, nada pode fazer a favor de sua conversão”.  (Sumário da Doutrina Cristã – Koehler – Pág. 121)


4.       A GRAÇA PODE SER IMPEDIDA
 
Os Arminianos corretamente crêem que Deus quer que todos os homens sejam salvos, e que Ele envia seu Santo Espírito para atrair todos os homens a Cristo. Contudo, segundo eles, desde que o homem goza de vontade livre absoluta, ele pode resistir à vontade de Deus em relação a sua própria vida. Vale lembrar que os Arminianos sustentam que, primeiro, o homem exerce sua própria vontade e só depois nasce de novo. E que, ainda que creia que Deus é onipotente, insistem em que a vontade de Deus, em salvar a todos os homens, pode ser frustrada pela finita vontade do homem como indivíduo.
 
Teologia Luterana: Rejeitamos este ensino Arminiano. Cremos, Ensinamos e Confessamos que realmente Deus deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (I Tm 2.4). Deus enviou seu filho ao mundo para que o salvasse (Jo 3,17). Deus não nos destinou para ira, mas para salvação (I Ts 5,9). Porém, Deus é Onipotente e sua vontade não pode em hipótese alguma ser frustrada. A graça de Deus é irresistível. Assim sendo, o homem natural não só não conhece o Deus da graça, como lhe é impossível decidir-se por segui-lo. O que torna inútil a especulação sobre se o homem em seu estado natural pode simplesmente resistir, ou rejeitar a graça salvadora.
 

5.       O HOMEM PODE CAIR DA GRAÇA
 
O quinto ponto do Arminianismo é a consequência lógica das precedentes posições de seu sistema. O homem não pode continuar na salvação, a menos que continue a querer ser salvo.
 
Teologia Luterana: Rejeitamos este ensino Arminiano. Cremos, Ensinamos e Confessamos que o homem após a conversão se mantém na salvação por Obra e Graça de Deus, que na pessoa do Espírito Santo nos acolhe, consola e nos preserva na fé verdadeira. De modo que mesmo na manutenção da Graça não há qualquer participação humana, ou mérito que o habilite a permanecer na condição de salvo.
 
Com isto surge a pergunta: Então uma vez salvo, sempre salvo, não importa o que faça?
 
Resposta: A única maneira de alguém perder a salvação é se após convertido apostatar da fé, como nos mostra claramente o texto bíblico: Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios;" (I Tm 4,1).
 
Resumindo: Deus quer salvar a todos. O evangelho oferece a redenção em Cristo a todos. Quem é salvo é salvo unicamente pela graça de Deus.  Quem se perde se perde por culpa própria. (Cremos por isto também falamos - pg. 54 - Otto O. Goerl - Fórmula de Concórdia)


 
Rev. Ari 
Eis ai minhas respostas às suas perguntas amigo Leitor em Dúvida. Está o mais resumido possível, mas, como eu disse antes, por tratar-se de um tema tão amplo e tão profundo, mesmo um resumo acaba se estendendo.
 
Espero ter esclarecido suas dúvidas. Fique a vontade para questionar, concordar, discordar... Enfim, estou à disposição para maiores esclarecimentos.
 
Fique na doce Paz do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, Ele que vive e reina juntamente com o Pai e o Espírito Santo. Amém!


Rev. Ari Fialho Júnior.
Igreja Ev. Luterana Missionária
Soli Deo Gloria!
 
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Fontes: Bíblia Sagrada - Almeida revista e atualizada.
Cf. Concordía Cyclopedia, verbete "Millennium", páginas 471-474.
Sumário da Doutrina Cristã – Koehler – Pág. 121- Editora Concórdia 1981 - 2ª ed. Koehler
Sumário da Doutrina Cristã - páginas 281 a 283 - Editora Concórdia 1981 - 2ª ed. Koehler
Cremos por isto também Falamos - pg. 54 - Otto O. Goerl - Fórmula de Concórdia
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