terça-feira, 12 de agosto de 2008

Jesus - Ele é a Fonte de Água Viva



Sermões 2008


Texto: Jo 4.1-14

Você já bebeu água de poço? Aquela "aguinha" fresquinha... serena... que, mata a sede de um modo tão especial, e que nos faz ter a nítida impressão de que jamais teremos sede novamente? Pois Bem, a boa notícia é que água de poço realmente é gostosa de beber. A má notícia, é que tão rápido quanto a sede foi embora ela retorna.

É apenas uma questão de tempo e você terá sede novamente.

Não há nada de errado com isto. Simplesmente é assim.

Entretanto, hoje eu quero lhe falar sobre um tipo diferente de água. Não qualquer tipo de água extraída aqui ou ali, mas a verdadeira Água da Vida, que flui de uma fonte inesgotável. Água da qual quem dela bebe, jamais tornará a ter sede.

Nossa história começa assim:

“(...) [Jesus] deixou a Judéia, e foi outra vez para a Galiléia. E era-lhe necessário passar por samária.
Chegou, pois, a uma cidade de samária, chamada Sicar, junto da herdade que Jacó dera a seu filho José; achava-se ali o poço de Jacó. Jesus, pois, cansado da viagem, sentou-se assim junto do poço; era cerca da hora sexta. Veio uma mulher de samária tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. Pois seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida. Disse-lhe então a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (Porque os judeus não se comunicavam com os samaritanos.) Respondeu-lhe Jesus: Se tivesses conhecido o dom de Deus e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe terias pedido e ele te haveria dado água viva. Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que tirá-la, e o poço é fundo; donde, pois, tens essa água viva? És tu, porventura, maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do qual também ele mesmo bebeu e os filhos, e o seu gado? Replicou-lhe Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.”.


Vamos aos fatos:

Jesus estava andando havia algum tempo desde sua saída da Judéia, o seu objetivo era chegar a Galiléia. O caminho mais curto compreendia uma travessia pela Samária. O sol abrasador do meio dia e o cansaço não pouparam o mestre, que avistando a fonte de Jacó, sentou­-se junto ao poço.

Este local onde Jesus havia parado, o poço de Jacó, era uma região simples, na verdade não muito diferente de algumas paisagens que você já viu no cinema, ou em fotos: deserto, muito sol, pouca água, poucas arvores, e vez ou outra uma tempestade de areia.
É em meio a este cenário natural, por volta do meio dia, que entra em cena a mulher samaritana. O texto Bíblico, por razões que só Deus sabe, não cita o nome desta mulher, nem sua ocupação. Porém, analisando um pouquinho da história e da cultura local, veremos que a presença da mulher samaritana naquele local indo retirar água do poço especificamente naquele horário, é algo um tanto quanto estranho para os costumes da época, pois historicamente sabemos que as mulheres, por questões culturais e de segurança, dirigiam-se em pequenos grupos ao poço de Jacó para retirar água, e isto geralmente pela manhã, ou ao final da tarde, dificilmente alguma mulher iria até ali ao meio dia, e se por motivos especiais assim o fizesse, muito provavelmente não iria até lá sozinha.
Ora, a atitude da mulher samaritana nos leva a fazer pelo menos duas perguntas curiosas em relação a ela:
Por que esta mulher veio tirar água Justamente ao meio dia?

Por que, contrariando o costume local, ela veio sozinha?


Vejamos como o texto continua:

O diálogo entre Jesus e a mulher prossegue: “... pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.


Disse-lhe a mulher: Senhor dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, nem venha aqui tirá-la. 

Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido e vem cá

Respondeu a mulher: Não tenho marido.


Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido; porque cinco maridos tiveste, e o que agora tens não é teu marido; isso disseste com verdade.”.

Ao ler o diálogo acima percebemos que havia algumas questões complicadas na vida daquela mulher. Ao falar com ela sobre a Água da Vida Jesus a confronta com a sua própria realidade, Ele disse: você foi casada cinco vezes, e o homem com quem você convive neste momento não é teu marido.

Eis ai uma das maravilhas da ação de Deus em nossas vidas. Deus nos confronta com nossa realidade. O Senhor Jesus ama o pecador, porém não ama o pecado. Por natureza somos todos pecadores perdidos, isto nos mostra claramente a Palavra de Deus, e se, além disto, ainda estivermos propositadamente vivendo em pecado, então o Senhor, por Seu infinito amor por nós, não hesitará em nos mostrar. O Senhor Jesus vai direto ao ponto. Por amor Ele nos faz perceber quem realmente nós somos, revela nossos pecados, e nos oferece a oportunidade de, com Sua ajuda, consertarmos nossas vidas.

É bem provável que a mulher Samaritana já fosse uma pessoa tão sofrida, tão pisoteada pelo pecado, que possivelmente ela mesma já se excluíra da presença das demais pessoas. Talvez, com medo de ser acusada, com medo de ser hostilizada, preferiu a solidão. Ou quem sabe, pra piorar as coisas, o próprio diabo já tivesse providenciado uma maneira de convencê-la de que melhor seria afastar-se das outras pessoas, do que abandonar o pecado. Talvez, fosse este o motivo pelo qual ela já não tirava mais água em companhia das outras mulheres.

Aliás, por falar nisto, a situação não é nada diferente em nossos dias. Basta você dar ouvidos às mentiras do diabo, e ele logo providencia um jeito de convencê-lo de que melhor é continuar tudo como está do que correr o risco de se expor publicamente e ser julgado, de que você está fazendo o que é melhor para você mesmo, ainda que isto custe a salvação de sua própria alma.
Infelizmente esta é a situação de muitas pessoas nos nossos dias. Por isso nos recomenda a Palavra de Deus: "Aquele, pois, que pensa estar em pé, cuide para que não caia". (I Co 10.12).


Infelizmente esta e a dura realidade na vida de muitas pessoas: deram ouvidos às mentiras do diabo, e depois envergonhados, pensam em redimir-se por conta própria. Pensam que a solução é afastar-se de Deus e do convívio de outras pessoas. Mas eu afirmo que esta ideia não é outra coisa senão mais uma mentira descarada do inimigo de nossas almas. O isolamento, o endurecimento de coração, o afastar-se de Deus, não é uma opção.

Entretanto, assim como no caso da mulher samaritana, em que havia alguém ali, justamente ao meio dia, junto aquele poço, disposto a lhe falar, disposto a lhe ouvir, e a dar a própria vida por ela. Assim também agora, neste momento o Senhor Jesus, através da Sua Santa Palavra, está ai com você leitor.
Jesus não estava junto ao poço falando com aquela mulher por mero acaso, mas por amor. De modo semelhante Jesus está ai onde você está também por amor, Ele está onde o necessitado está.

Você pode crer nisto?

Voltemos à cena na fonte de Jacó. Jesus, que está sentado junto ao poço, dirige-se a mulher dizendo:

"Dá-me de beber"

Este simples pedido do Senhor provoca uma onda de questionamentos naquela mulher. E pela vontade, e misericórdia de Deus, inicia-se então um dialogo nunca esperado por ela.
De um lado o Salvador de todos nós, Jesus Cristo. De outro, uma alma perdida, morta em seus delitos e pecados.

Que cena meus amados, que quadro maravilhoso. Só mesmo Deus, na sua infinita misericórdia, poderia nos proporcionar tamanho refrigério e alegria. Saber que o próprio Salvador está disposto a vir até nós, ouvir nosso lamento, nosso pedido de perdão, e pela Sua Palavra Graciosa nos oferecer consolo, e salvação.

Certamente isto é mais do que qualquer ser humano pode imaginar.

E lá naquele poço, diante do Salvador, a mulher Samaritana perplexa com o que estava acontecendo, de imediato faz três perguntas a Jesus:

- Como, sendo tu Judeu, pedes de beber a mim que sou mulher Samaritana?

- onde, pois, tens a água viva?

És tu, porventura, maior que o nosso pai Jacó?


Longe de imaginar com que objetivo o Senhor lhe falava, a pobre mulher tenta direcionar o assunto para questões religiosas e políticas, entre os Judeus e os Samaritanos.

Mas Jesus, o próprio Deus feito homem, com amor, lhe dá como resposta para primeira pergunta, uma verdadeira declaração sobre qual é a Sua Vontade para toda a humanidade:

Replicou-lhe Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.

Apesar do fato de a mulher Samaritana fazer ainda mais duas perguntas distintas, Jesus tornou a reconduzi-la ao assunto principal: a Água Viva.

Afirmou-lhe Jesus: "Quem beber da água deste poço tornará a ter sede, aquele, porém, que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar pela vida eterna".

Talvez você pergunte:

Mas por que Jesus podia dizer estas coisas para ela?

Por que Ele se importava com a vida dela!?

Por que Ele se importaria com a minha vida hoje?

Por quê?

Porque aquele mesmo Jesus que calmamente conversava com aquela mulher no poço de Jacó estava prestes a se entregar para morrer por ela na cruz do calvário, e não somente por ela, mas também por nós, para pagar a pena pelos nossos pecados. Porque Ele sabia desde a eternidade que Ele, e somente Ele seria, e é o nosso Senhor e Salvador.

Como é bom saber, meus amados, que esta é à vontade de Deus para nossa vida: Através de Jesus Cristo, nos dar de beber desta Água Viva.
Ainda que hoje não estejamos fisicamente frente a frente com o Senhor Jesus, todavia, o Espírito Santo, o Consolador de todos nós, tem nos amparado e confortado diariamente através da Santa Palavra de Deus. E que grande consolo nos é dado, quando através desta Palavra, o Senhor nos faz saber que somos pecadores, que precisamos nos arrepender que precisamos crer em Jesus como Senhor e Salvador, que Ele nos oferece o perdão e a vida eterna, e que tudo isto, em nada depende de nós, mas tão somente do próprio Deus.

Uma coisa eu tenho certeza, e peço que você também tenha: Jesus está tão presente para nós aqui hoje, quanto estava para mulher Samaritana na fonte de Jacó.
Talvez, você até sinta vontade de questionar: "Se Deus é comigo, por que eu tenho tantas dúvidas, e dificuldades na minha vida?".
Todavia Deus nos diz em Sua Palavra, que sequer um fio de cabelo cai de nossa cabeça, sem que seja do Seu conhecimento.
E, pode acreditar, assim como Ele conhecia tão bem aquela mulher, é certo que Ele conhece a você, a mim, enfim, a cada um de nós que está lendo este texto.

Sim meu amado, aquele mesmo Jesus que estava junto ao poço de Jacó, e que amorosamente confrontou aquela mulher perdida em seus próprios pecados, e ao mesmo tempo lhe ofereceu salvação; está aqui hoje, e nos oferece Perdão, e vida eterna dizendo: "aquele que beber da água que Eu lhe der, jamais terá sede para sempre”.



Esta é a verdadeira Água Viva que Jesus tem para nos dar: Ele morreu por nós para pagar a pena pelos nossos pecados e nos dar gratuitamente a vida eterna.

Creia amado leitor Jesus te ama, Ele morreu por nós para pagar a pena pelos nossos pecados. Ele quer te salvar.

Eu creio nisto, e você?

Que o Espírito Santo ilumine, e conserve estas palavras no coração de cada um de nós.

Oremos:
Senhor Jesus reconheço que sou pecador(a) e necessito do Teu perdão. Livra-me de tudo o que Te desagrada. Transforma minha vida. Ajuda-me a rejeitar o pecado. Seja meu Senhor para que eu possa ser Teu servo(a).

Se você fez a oração acima e gostaria de saber mais sobre vida cristã entre em contato com:
reverendoari@yahoo.com.br, e estaremos enviando-lhe gratuitamente informações sobre como ter uma vida cristã saudável.

Revdo. Ari Fialho Jr.
Teólogo Luterano e Pastor da
Igreja Evangélica Luterana Missionária.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Somos salvos pela Graça, e não por obras!



Olá amados,
Paz seja convosco
!

Palavra viva – Pastorais 2008

Todos sabem de um modo ou de outro, que somos pecadores e por isto estamos afastados de Deus.
Mesmo ao mais frio, mais terrível e perverso ser humano, se perguntarem a ele sobre se acha correta todas as suas próprias atitudes, estando ele em sã consciência, responderá que não. Isto porque o que nos faz saber sobre nossa condição de pecador, é a lei de Deus que habita no coração de cada um de nós. O homem, todavia é incapaz de cumprir tal lei. Mesmo que com o intuito de agradar a Deus o ser humano se esforce ao máximo para andar conforme a lei, ainda assim o resultado será sempre o mesmo: o fracasso.
Neste caso vemos que a lei de Deus conquanto seja pura e santa, e seja o caminho para uma conduta moral reta e elogiável, todavia não é o caminho para nossa salvação. Ainda que quem nos leve a morte espiritual seja o pecado, e quem nos faz saber que pecamos seja a lei, concluímos que ninguém irá pro céu por tentar cumprir as obras da lei, posto, que como dito acima, tal empreitada se nos é impossível.


Muitas pessoas acreditam que podem diminuir seus pecados ajudando outras pessoas, dando boas ofertas na igreja, e fazendo as mais diversas boas obras. Mas tudo isto não passa de um “culto vão”, de um esforço inútil, para alcançar a Paz com Deus, algo que humanamente falando é impossível de se conquistar. Deste modo resta-nos a pergunta: Então como pode alguém estar com Deus e ir para o céu? A resposta está na Cruz de Cristo. É necessário crer na obra que Jesus Cristo fez por nós, e não nas nossas próprias boas obras. Se quisermos pagar os nossos pecados fazendo boas obras, então estaremos anulando o sacrifício de Cristo, que morreu por nós para pagar a pena pelos nossos pecados, nos livrando assim de ter que cumprir a lei para efeito de salvação. Isto é o que devemos nos perguntar: Foi por obras da lei que recebemos o Espírito Santo, ou pela palavra de fé anunciada a nós? Eu respondo: pela palavra de fé que anuncia à todos que Jesus morreu por mim e por você.

Crê no Senhor Jesus e serás salvo.

Graças a Deus por Jesus Cristo que morreu a nossa morte para vivermos sua vida.

Oremos:

Senhor meu Deus e meu Pai reconheço que sou um pecador perdido e que preciso do Teu perdão. Toma minha vida nas Tuas mãos. Livra-me do inferno e da morte. Seja meu Senhor e eu serei Teu servo.
Por Jesus Cristo, amém!


Rev. Ari Fialho Jr.
Teólogo Luterano e Pastor da
Igreja Ev. Luterana Missionária.
Soli Deo Gloria!

terça-feira, 22 de julho de 2008

Missão em Gravataí/RS

Fotos Casamento meu filho Denilson e Cristiane























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Fotos do batizado de minha netinha Milena


















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Fotos antigas da nossa missão em Gravataí
































sábado, 5 de julho de 2008

Igreja pós Reforma

BREVE ANÁLISE DA IGREJA PÓS REFORMA


A Reforma Luterana

O monge alemão Martinho Lutero foi um dos primeiros a contestar fortemente os dogmas da Igreja Católica. Afixou na porta da Igreja de Wittenberg as 95 teses que criticavam vários pontos da doutrina católica. As 95 teses de Martinho Lutero condenavam a venda de indulgências, além de outras questões doutrinárias.
Amparado pela Bíblia Lutero afirmava que a salvação do homem ocorria somente pela fé no sacrifício de Cristo na cruz do calvário.
Embora Lutero tenha sido contrário ao comércio, teve grande apoio dos Reis e príncipes da época. Em suas teses, condenou o culto às imagens e abriu mão do celibato.


A Reforma Calvinista

Na França, João Calvino começou a Reforma Luterana no ano de 1534.
De acordo com Calvino o salvo era reconhecido pelo seu trabalho justo e honesto. Essa idéia Calvinista atraiu muitos burgueses e banqueiros para o Calvinismo. Muitos trabalhadores também viram nesta nova religião uma forma de ficar em paz com sua religiosidade. Calvino também defendeu a doutrina da predestinação.


A Reforma Anglicana

Na Inglaterra, o rei Henrique VIII rompeu com o papado, após este se recusar a
cancelar o casamento do rei. Henrique VIII funda o anglicanismo e aumenta seu poder e suas posses, já que retirou da Igreja Católica uma grande quantidade de terras.


A Contra-Reforma

Preocupados com os avanços do protestantismo e com a perda de fiéis, bispos e papas reúnem-se na cidade italiana de Trento (Concílio de Trento) com o objetivo de traçar um plano de reação. No Concílio de Trento ficou definido:
- Catequização dos habitantes de terras descobertas, através da ação dos Jesuítas; - Retomada do Tribunal do Santo Ofício - Inquisição : punir e condenar os acusados de heresias- Criação do Index Librorium Proibitorium ( Índice de Livros Proibidos ) : evitar a propagação de idéias contrárias à Igreja Católica.


Intolerância

Em muitos países europeus as minorias religiosas foram perseguidas em muitas
guerras religiosas que ocorreram, frutos do radicalismo. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), por exemplo, colocou católicos e protestantes em guerra por motivos puramente religiosos. Na França, o rei mandou assassinar milhares de Calvinistas na chamada Noite de São Bartolomeu.



Conclusão:

Da Reforma – analise positiva: Pelo que se conhece da história da igreja cristã na idade média envolvida em exploração do povo, juntamente com suas atrocidades cometidas em nome de Deus(!?) contra todos que não aceitavam seus dogmas, pode-se perceber que a reforma da igreja era sem dúvida urgente. Conclui-se também que após a reforma o período que se iniciou foi de muita luta e constante perseguição. Não fosse Deus, certamente a reforma não teria subsistido.



Da Reforma – analise negativa: Por outro lado percebe-se que o processo de Reforma desencadeou uma reação que resultou em uma fragmentação do ideal da própria reforma. O surgimento de seitas tornou-se inevitável.
Creio que este não era o objetivo de Lutero, mas de fato foi o que aconteceu. O resultado não poderia ter sido outro: Idéia inicial fragmentada, objetivo final fragmentado.


Da diversidade de Doutrinas e Igrejas: Bem, se o ideal inicial da reforma foi fragmentado e distorcido conforme o interesse da cada grupo, é possível compreender o porquê desta atual diversidade de igrejas e suas doutrinas, e todas afirmando serem verdadeiramente bíblicas.
É inegável o triste fato de que diariamente surgem “novas doutrinas”. Diariamente surgem “novos pastores”, “doutores” da fé. Diariamente surgem novos “profissionais da fé”. São pessoa vazias, que não passam de aves de rapina, mercenários da fé, mais interessados em “vender seu peixe” do que realmente anunciar Jesus como Senhor e Salvador aos corações atribulados. Até quando isto permanecerá assim? Sabemos que não é nosso papel separar o joio do trigo, mas sem dúvida alguma é compromisso de cada cristão zelar pelo correto ensino da Palavra de Deus.

Para finalizar acredito que, embora haja uma quantidade tão grande de denominações, ainda assim existe a fé verdadeira, pois esta é dada por Deus em Cristo, mantida por Ele, e está alicerçada na sã doutrina cristã, que certamente é a correta interpretação das sagradas escrituras.

Diante disto, na qualidade de ministro da Santa Palavra de Deus, convoco todo cristão verdadeiro, a unir-se em uma só fé, e proclamarmos mais uma vez a reforma da Igreja. Entretanto é necessário lembrarmos que a Igreja de Cristo nada mais é que cada indivíduo que a compõe. Você é a Igreja de Cristo ai onde você está. Eu aqui, sou a Igreja de Cristo. Logo, nós somos o alvo da reforma.

Torna-se urgente compreender o que Paulo quis dizer com Romanos 12.1,2:

1- Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
2- E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.


Prepare-se então para dobrar seus joelhos e clamar a Deus por uma mudança em você, pois esta reforma deve começar no íntimo de cada indivíduo. Deve continuar na casa de cada indivíduo. E só depois que você retornar ao caminho certo é que poderá então fazer com que esta reforma estenda-se até a instituição chamada igreja. Porque se no mais intimo do nosso ser não houver transformação, então será impossível que haja uma transformação ao nosso redor.

Rev. Ari Fialho Júnior
Teólogo Luterano e
Pastor da Igreja Ev. Luterana Missonária

www.suapesquisa.com/protestante

terça-feira, 27 de maio de 2008

Culto Cristocêntrico, ou Antropocêntrico?

Santa Ceia

A Santa Eucaristia é o centro do culto cristão e da vida da Igreja, têm sido assim desde os primórdios da Igreja, onde a cristandade nesta comunhão de altar torna-se una com todo o corpo de Cristo.
Cada pastor realmente comprometido com a obra de Deus deve zelar para que o verdadeiro sentido do Sacramento do Altar permaneça presente entre os seus congregados. Entretanto, como escreve Hermann Sasse[1]:

“Os cismas e heresias (...) se fizeram notar primeiro na celebração da Ceia do Senhor. É digno de nota que estes cismas, e a decadência do sacramento levaram os apóstolos a tratar do assunto(...)”.

Esta observação de Hermann Sasse parece bastante atual se considerarmos a grande possibilidade destes cismas e heresias gerarem influências ainda hoje no meio cristão. E não seria surpresa que a cristandade atual também estivesse experimentando constante decadência da vida sacramental.
Verdade é que a sã doutrina cristã tem sido atacada de todos os lados por novas doutrinas que se espalham como poeira no vento. Como por exemplo, uma das doutrinas ensinadas pela Igreja Pentecostal Deus é amor, e por tantos quantos crêem assim, (fonte http://www.ipda.org.br/ ) ensina a teologia dos super crentes, onde segundo esta doutrina um cristão não pode adoecer fisicamente, exceto se estiver em pecado. A teologia da prosperidade da Igreja Universal do Reino de Deus (fonte http://www.igrejauniversal.org.br/ ) ensina que a resposta para solução das suas necessidades financeiras se encontra em você mesmo e na maneira como você administra os seus dízimos e suas ofertas. A teologia da oração positiva de Norman Vincent Peale expressa em seus livros, ou espalhadas pela internet
fonte(http://jrobertopeixoto.sites.uol.com.br/ ) ensina que tudo na vida cristã depende de seu pensamento positivo no momento de oração.

Que o alvo principal dos que produzem tais novidades freqüentemente tem sido o Santo Sacramento do Altar isto fica claro quando percebemos o que há em comum entre estas doutrinas: o fato de que todas elas apontam o homem como a própria fonte de todas as bênçãos bastando apenas que o homem se determine e fortemente queira aquilo que ele almeja. Ou seja, não precisamos mais recorrer a fonte de vida que é o corpo e o sangue de Jesus, mas tão somente apegarmo-nos firmemente a nós mesmos. Para todos os que se apegam a estas novas doutrinas a Ceia já não é o centro do culto cristão. Se a presença de Cristo é real ou não, para todos os que crêem como exposto acima, isto já não importa visto que agora a Ceia torna-se um memorial em forma de prêmio para aquele que se comportou bem durante o mês e agora merece participar da mesa do Senhor.
Com tristeza constatamos que o ser humano quando dá asas a sua imaginação, produz os mais diversos tipos de teorias. Apegado ao que ele mesmo concebe, substituindo a verdade pelas suas próprias mentiras, o homem chega mesmo a opor-se a Deus, ainda que isto lhe custe à própria salvação.

De acordo com o pensamento do Rev. Horst R.Kuchenbecker[2]:

“Mesmo vendo ainda sinais do cristianismo em todos os lugares, vemos pouca vida cristã. Poucos são os que vivem e confessam a verdade que Jesus afirmou: “O meu reino não é deste mundo (Jo 18.36) ” No lar e na igreja há pouco ensino das verdades fundamentais. Estamos resvalando de um culto cristocêntrico para um culto antropocêntrico,(...) O vácuo produzido por tal desvio da verdade é preenchido pelo esoterismo e / ou cultos recreativos.”

Estamos vivendo em um período de crescente descaso com a doutrina verdadeira, e isto têm se tornado um veneno no meio da cristandade. Vemos isto claramente no meio da própria igreja, e é claro, isto reflete negativamente em nossas escolas, nossos clubes sociais , enfim na sociedade em geral, que já não reconhecem mais os valores cristãos como base e fundamento para nortear suas atitudes.
Na verdade, a decadência do verdadeiro ensino cristão, e em especial no que se refere ao Santo Sacramento do Altar, corresponde à decadência da própria igreja. Que isto é um fato real comprovamos quando observamos atentamente o que igrejas como as citadas acima ensinam não somente quanto a Santa Ceia, mas nas diversas doutrinas estabelecidas e aceitas como correta exposição dos textos sagrados. Tais denominações ocupam-se de acomodar os ensinamentos bíblicos à sua realidade, ou seja, ao invés de conformarem-se com as doutrinas que Deus já nos revelou na Bíblia, criam suas próprias doutrinas a custa de uma verdadeira ginástica hermenêutica e exegética, e então empurram suas conclusões para dentro dos textos sagrados na esperança de que Deus os aceite como Seus.
Ocupando lugar de destaque, o Sacramento do Altar é, sempre de novo, alvo de controvérsias. E é ai mesmo que a cristandade deve saber se posicionar. É aprendendo a combater as controvérsias e firmar sua posição naquilo que é a correta expressão da vontade divina. Evidentemente nós como igreja confessional não podemos calar diante destes fatos. Não podemos simplesmente ficar ausentes. Este é um desafio do presente, do qual é nosso papel assumirmos postura coerente com a nossa realidade e principalmente como Igreja de Cristo.
De fato, este problema, o enfraquecimento da compreensão correta da doutrina bíblica concernente ao Santo Sacramento do Altar, não é novo, todavia o que deve nos preocupar é como os nossos congregados têm se portado diante desta situação.
Para Hermann Sasse³ por exemplo, toda enfermidade da igreja se torna manifesta à Mesa do Senhor. Entretanto, para que possamos nos posicionar a respeito deste tema fora de nossas portas, é necessário primeiro reconhecermos em que situação estamos nós como povo cristão. Não só nos importa saber que pertencemos a uma igreja séria enquanto instituição, mas importa também que possamos afirmar fazer parte da Igreja verdadeira cujo único e suficiente Pastor é Jesus Cristo.
Como estão neste sentido nossas congregados? Devemos nos preocupar? Apesar de todos os nossos esforços, existe tal situação em nossas congregações? Temos sido vítimas deste enfraquecimento no real conceito de Santa Ceia?
Vale lembrar que o objetivo deste trabalho não é criticar, mas sim conduzir-nos a uma reflexão sobre nossas congregações e suas perspectivas sobre o Sacramento do Altar.

Santa Ceia – Breve histórico

Certamente que a origem da Santa Ceia se dá no exato momento em que o próprio Cristo a instituiu, a saber: na Quinta-feira Santa no momento em que Jesus Cristo juntamente com seus discípulos celebravam a Ceia pascal.
Este episódio é o cumprimento das promessas de Deus. Em Jeremias 31.31ss.: “Eis aí vêm dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança... não conforme a aliança que fiz com seus pais”. “... Pois, perdoarei as suas iniqüidades, e dos seus pecados jamais me lembrarei”. Em Hebreus 9.10, lemos que já chegou o “tempo oportuno da reforma”. Torna-se necessária à reforma da “anterior ordenança, por causa de sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma) e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a Deus”. Hb 7.18,19. Cristo é o mediador da nova aliança, Hb 9.15.
No centro do Sacramento do Altar está o sangue de Jesus Cristo, selo da Nova Aliança, o sangue do cordeiro de Deus, “porque onde há testamento é necessário que intervenha a morte do testador”. Hb 9.16.
Entretanto, é interessante notar que desde sua instituição até os dias de hoje, este sacramento tem sido alvo de controvérsias.
De acordo com o que nos mostra a própria história, a Igreja verdadeira, aquela fundamentada nas palavras do próprio Senhor Jesus, vem sofrendo constantes ataques de denominações religiosas, como as de cunho calvinistas, por exemplo: Igreja presbiteriana do Brasil, Igreja Batista de Sétimo dia, Igreja Adventista do Sétimo dia, Igreja Internacional da Graça de Deus, Convenção Batista Brasileira, entre outras, que advogam para si o direito de interpretar as palavras desta aliança firmada pelo Senhor, conforme sua própria vontade e inclinação.
Se voltarmos no tempo apenas até a época da reforma já teremos aí material histórico suficiente para termos uma clara noção do que tem sido esta luta contra a verdadeira Igreja cristã[3]: mestres zwinglianos de um lado disseminando seu erro sobre este sacramento, de outro lado mestres luteranos apegados a sã doutrina cristã. Entre ambos uma só questão: se na ceia o verdadeiro corpo e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo estão verdadeiramente e essencialmente presentes, são distribuídos com pão e vinho e recebidos oralmente por todos aqueles que fazem uso deste sacramento.
Ao longo dos tempos esta questão tem sido respondida de diversas maneiras[4]: Cristo não está presente, pão e vinho apenas representam o corpo e sangue de Jesus, tudo é um ato comemorativo, meramente simbólico, dizem a maioria dos entusiastas; pão e vinho transformam-se em carne e sangue, que inclusive devem ser adorados, ensinam os papistas; por outro lado, os calvinistas e a maioria dos reformados ensinam que já que seu corpo não pode estar presente aqui na terra, e ao mesmo tempo, em tantos lugares diferentes, onde quer que se celebre a Santa Ceia, afirmam então que Cristo está presente conforme a fé de cada um, onde a boca recebe pão e vinho e a alma se eleva ao céu e recebe Jesus Cristo pela fé.
Na mesma época, século XVI, em meio a tais controvérsias, e com o claro objetivo de estabelecer o correto ensino sobre muitas matérias que eram alvos de polêmica por parte dos que abandonaram a verdade em troca de ensino fantasioso e ante-escriturístico, F. Melanchthon redige a Apologia da Confissão de Augsburgo[5], e no seu capítulo X trata do tema em questão afirmando que:

[...] confessamos crer que na ceia o corpo e o sangue de Cristo estão presentes verdadeira e substancialmente, sendo oferecidos verdadeiramente com os elementos visíveis, pão e vinho, aos que recebem o sacramento. [...]

Tal declaração, por ser a correta exposição do ensinamento bíblico, deveria nortear ainda hoje o pensamento e compreensão de cada cristão, e de todos aqueles que fundamentam a sua fé na verdade.

Rev. Ari Fialho Júnior
Teólogo Luterano
Soli Deo Gloria!

[1] Sasse, Hermann. Isto é o meu Corpo – Porto Alegre, Casa Publicadora Concórdia, RS, 1970, p. 2.
[2] Kuchenbecker, H. R., A importância e necessidade da formação de Pastores, Professores e Leigos, Vox Concordiana, vol. 17, número 1, ano 2002, pág. 56 “1)A Secularização e as religiões do presente”.
[3] Goerl, A. Otto – “Cremos por isso também falamos”. Fórmula de Concórdia. Publicado pela Concórdia S. A. – Porto Alegre, 1977, pág. 79.
[4] Goerl, A. Otto – “Cremos por isso também falamos". Fórmula de concórdia. Publicado pela Concórdia S. A. – Porto Alegre, 1977, pág. 81, 82.
[5] Melanchton, Filipe. “Apologia da Confissão de Augsburgo”. Casa Publicadora Concórdia S. A., 1969, pág. 96.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Das Boas Obras

Das Boas Obras

As Boas Obras sempre foram um artigo de grande controvérsia mesmo entre as igrejas reconhecidamente cristãs. Na verdade, mesmo antes do nascimento da igreja, a cristandade já se debatia com este problema, a saber: Se as boas obras são necessárias para a salvação. Se as boas obras são necessárias ao menos para manter a salvação. Se as boas obras são prejudiciais à salvação.
O assunto é bem amplo, e está aberto a discussões. Porém muitas denominações religiosas sequer têm uma posição clara a este respeito. Mas creio que por se tratar de um tema fundamental no ceio da igreja, o mesmo deve ser esclarecido ao máximo, afim de que erros grosseiros possam ser evitados.
Abaixo segue minha opinião, fé e confissão sobre este tema:

1. Devemos diferençar entre obras que são boas diante dos homens e obras que são boas diante de Deus.

- Deus mui­tas vezes desaprova o que os homens consideram dignos de louvor, e os homens muitas vezes ignoram e desprezam o que é bom e aceitável aos olhos de Deus. Não cabe ao homem determinar quais as obras que agradam a Deus. Só Deus po­de fazê-lo (Miquéias 6.8).

2. Duas coisas são necessárias para que qualquer obra se qualifique como boa diante de Deus:

a- deve estar conforme a lei divina e deve proceder do motivo certo.

Boas obras devem estar conformes à vontade de Deus, tal como está revelada em sua palavra, especialmente na lei. É em vão supor que qualquer homem, clérigo ou leigo, congregação ou sínodo, possa determinar o que deve agradar a Deus.

"E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens" (Mateus 15.9). A palavra de Deus é o único padrão de boas obras. "Cuidareis em fazerdes como vos mandou o Senhor vosso Deus: não vos desviareis, nem para a direita, nem para a esquerda" (Deuteronômio 5.32).

Obras feitas de acordo com outros padrões, tais como os man­damentos da igreja, ou a devoção própria do homem, com sua santidade auto-inventada e exercícios impostos por ele mes­mo, não são boas obras, mas culto vão. E a boa intenção que se possa ter não transformará uma clara transgressão da lei em boa obra.

"Eis que o obedecer é melhor do que o sacri­ficar" (l Samuel 15.22); (João 16.2).

b- Boas obras devem proceder do amor a Deus.

Mesmo as obras da lei não são obras verdadeiramente boas se feitas por constrangimento, por serem ordenadas, ou se feitas por medo de punição, ou por desejo de recompensa. As esmolas e orações dos fariseus não agradaram a Deus, porque foram produzidas por vanglória e autojustiça (Mateus 6.1-5). Qual­quer consideração egoísta destrói a qualidade das boas obras. A fé atua pelo amor (Gálatas 5.6). A fé em Cristo produz amor no coração, e este amor se manifesta em boas obras. "O cumprimento da lei é o amor" (Romanos 13.10); (Ma­teus 22.36-40; 1 João 5.3).

3. Os não salvo não podem fazer obras verdadeiramente boa.

- Podem em alguma medida, sujeitar-se à letra da lei, e desta maneira realizar uma justiça civil. Podem ser louvados pelos homens por sua filantropia, pureza moral e honestidade, porque "o homem vê o exterior, porém o Senhor, o co­ração" (1 Samuel 16.7). É a atitude do coração que deter­mina o valor ético da obra. O único motivo reconhecido por Deus é amor abnegado, amor de Deus. Tal amor é fruto da fé, sendo, por isso, encontrado apenas em crentes.

"Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" (João 15. 5).

Os que crêem em Cristo são solícitos na prática de boas obras (Tito 3.8). Os regenerados estão internamente qualificados para a prática de boas obras, e as praticarão. A luz de sua fé brilhará em muitas boas obras (Mateus 5.16).

"Enquanto o homem não está salvo, conduzindo se de acordo com a lei e praticando as obras por serem ordena­das, por medo de punição ou desejo de recompensa, ainda es­tá sob a lei, e suas obras são chamadas por Paulo propria­mente obras da lei, pois são extorquidas pela lei, como as de escravo. Estes são os santos segundo a ordem de Caim, isto é, hipócritas. Mas quando o homem renasce pelo Espírito de Deus e está liberto da lei, isto é, livre do verdugo e guiado pelo Espírito de Cristo, vive de acordo com a vontade imu­tável de Deus contida na lei, e enquanto renascido tudo faz de espírito livre e contente. Estas obras não são chamadas propriamente da lei, mas obras e frutos do Espírito" (Fór­mula de Concórdía, Declaração Sólida, art. VI, 16, 17, Tri­glotta, p. 967).

Assim duas pessoas podem fazer exatamente a mesma obra requerida pela lei, mas uma a faz justamente por ser exigida, e teme a punição, ao passo que a outra a faz por amor a Deus e em gratidão por suas misericórdias. É esta última quem pratica boa obra.

4. Nem tudo o que o cristão faz é boa obra.

- Ainda tem o velho homem, que de forma alguma é melhor do que o do não salvo. Tudo o que procede da carne do cristão é ímpio e pecaminoso (Romanos 7.14-23). Apenas andamos no Espírito se vivemos no Espírito (Gálatas 5.25). Apenas pro­duzimos bom fruto quando nossa fé atua pelo amor. - Mes­mo as boas obras dos crentes não são perfeitas, mas estão manchadas pelo pecado. Disse Lutero: "O cristão piedoso pe­ca em todas as suas boas obras." Isto é verdade, porque tudo o que faz está mais ou menos contaminado com a pecami­nosidade da carne, o temor servil, o egoísmo, etc. (Isaias 64. 6). Mas por causa de Cristo mesmo estes sacrifícios espiri­tuais imperfeitos de seus filhos são aceitáveis diante de Deus (l Pedro 2.5).

"Mas a lei não ensina como e quando as boas obras dos crentes, embora nesta vida imperfeitas e impuras em virtude do pecado na carne, são, contudo, aceitáveis para Deus e lhe agradam... Mas o evangelho ensina que nossas ofertas espirituais são aceitáveis para Deus pela fé, por cau­sa de Cristo" (Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida, arti­go VI, 22, Triglotta, p. 969).

5. Adiáforos.

- Obras não ordenada ou proibida es­pecificamente por Deus são em si mesmas indiferentes (Mittel­dinge, adiáforos). Mas também a qualidade delas é determi­nada pelo motivo que as origina.

"Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a gló­ria de Deus" (1 Coríntios 10.31).

Não podemos pecar para a glória de Deus (Romanos 2.23,24; 6.1). Mas qualquer coi­sa que fazemos se procede do amor a Deus e é para sua gló­ria, é serviço que lhe agrada. Onde quer que Deus nos haja posto na vida, quer sejamos empregadores ou empregados, pais, mães, filhos, professores, estudantes, etc., devemos cumprir nosso dever com fidelidade,

"como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade, co­mo ao Senhor, e não como a homens" (Efésios 6.6,7).

Se cumpridos no verdadeiro espírito, os mais simples deveres de nossa vida diária tornam-se serviço agradável a Deus. Trabalhar apenas por dinheiro, estudar meramente para conse­guir honrarias e créditos, é egoísmo, não boa obra. Mas tra­balhar e estudar porque é da vontade de Deus que o façamos, e mostrar nosso reconhecimento pelo que Deus fez por nós, é agradável aos olhos de Deus.


6. Boas obras são necessárias porque Deus as pede de seus filhos (Mateus 5.16; 2 Coríntios 9.6,8; Tito 2.14).

- São, além disso, os frutos necessários do arrependimento (Mateus 3.8), o produto inevitável da fé (Gálatas 5.6; João 15.5). Sem eles a fé está morta (Tiago 2.17).

"Os regenerados pra­ticam boas obras de espírito livre. Isso não deve ser enten­dido como se fosse matéria de opção do regenerado fazer ou abster-se de fazer o bem quando assim o deseja, e que possa reter a fé ainda que intencionalmente persevere em pecados" (Fórmula de Concórdia, Epitome, Artigo IV, 11, Triglotta, p. 799).

As boas obras não são necessárias para a justificação e a salvação (Romanos 3.28). Ninguém é declarado justo diante de Deus na base de suas boas obras. Quando Deus justifica o homem, em nenhum sentido toma em considera­ção o bem que o homem possa haver feito, mas olha apenas para os méritos de Cristo (Romanos 3.24). Nossas boas o­bras também não complementam alguma falta ou deficiência nos méritos do Salvador.

"Porque com uma única oferta aper­feiçoou para sempre quantos estão sendo santificados" (He­breus 10.14).

Nem são necessárias para dar força e poder salvífico à fé, pois a fé confia nos méritos de Cristo, não em seus próprios frutos. Também não são necessárias para pre­servar a fé no coração, pois isso é feito pelo Espírito Santo através do evangelho (Cf. Fórmula de Concórdia, Epitome, e Declaração Sólida, Art. IV, Triglotta, p. 797 e seguintes).

7. Boas obras são recompensadas.

- A recompensa de boas obras não é recompensa conquistada por nós e que pos­samos exigir como devida a nós.

"Assim também vós, de­pois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer" (Lucas 17.10).

Além disso, nossas melhores obras são im­perfeitas, e julgadas por seus méritos apenas alcançariam con­denação para nós. “Ensinamos ser necessário praticar boas obras não para confiarmos que por elas mereçamos graça, mas por ser da vontade de Deus (Confissão de Augsburgo, Art. XX, 27, Triglotta, p. 57)”. Jamais deve ser intenção nos­sa ganhar algo com nossas boas obras, pois isso destruirá de vez seu caráter de boas obras.

Deus, contudo, prometeu recompensar ricamente nossas boas obras.

"É grande o vosso galardão nos céus" (Mateus 5.12). "A tua recompensa, porém, tu a receberás na ressur­reição dos justos" (Lucas 14.14).

"A piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser" (1 Timóteo 4.8).

Isso não é recompensa de mérito, mas de graça, recompensa que Deus não nos deve e que não podemos exigir como devida a nós, mas que ele pro­mete e dá livremente a seus filhos apenas por graça. Deus não revelou a exata natureza dessa recompensa. Pode ser que ele nos conceda bênçãos especiais em nossa vida (Eclesiastes 11.1; Provérbios 19.17; o quarto mandamento), ou que evi­te conseqüências danosas de nossos próprios erros. Nos céus a recompensa consiste em maior grau de glória (Mateus 25. 14-30; Lucas 19.12-26; 2 Coríntios 9.6).

Rev. Ari Fialho Jr.
Soli Deo Gloria!

Sumário da Doutrina Cristã - 2ª Edição, p. 155 - 159 – Editora Concórdia - 1981
Fór­mula de Concórdía, Declaração Sólida, art. VI, 16, 17, Tri­glotta, p. 967
Confissão de Augsburgo, Art. XX, 27, Triglotta, p. 57
Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida, arti­go VI, 22, Triglotta, p. 969.
Fórmula de Concórdia, Epitome, Artigo IV, 11, Triglotta, p. 799.
Cf. Fórmula de Concórdia, Epitome, e Declaração Sólida, Art. IV, Triglotta, p. 797 e seguintes.
Confissão de Augsburgo, Art. XX, 27, Triglotta, p. 57
Bíblia Sagrada.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Consciência



Como a consciência age no ser humano corrompido pelo pecado.

Consciência:

Conceito do ponto de vista filosófico/humano.

As principais correntes teórico-filosóficas que desenvolveram definições acerca do conceito consciência seguem dois caminhos: o proposto por Descartes e o produzido a partir de F.C. Brentano. Em Descartes a consciência se define como conhecimento reflexivo. Assim, ser consciente é apreender-se a si próprio de modo imediato e privilegiado. Isto leva a uma co-extensão entre consciência e psiquismo. O caminho de

Brentano retoma o conceito de intencionalidade da tradição escolástica, e que se torna conceito central na fenomenologia de T. Husserl. Segundo este caminho a consciência é definida pela intencionalidade, pela referência ou relação a um objeto que caracterizaria como mental imanente ou intencional, excluindo-se a obrigatoriedade da existência real ou efetiva. O critério de intencionalidade fundamenta uma classificação dos fenômenos psíquicos, sem apelar para critérios extrínsecos. Assim, teriam tantos fenômenos mentais quanto modos de a consciência se referir aos objetos imanentes. A esses modos temos considerado: 1) a representação, 2) o juízo e 3) o amor e o ódio. Outros conceitos e definições de consciência incluem também mais alguns modos: Verdade, Senso de Realidade, Auto-conhecimento, Capacidade de entender e Interagir com o Meio, Senso de Moral, Senso Crítico.

Consciência, e Bíblia:

No Antigo e em o Novo Testamento, a palavra Consciência aparece diversas vezes, sempre associada a questões morais. Tendo a ausência, ou presença de pecado, como fator de alteração da própria consciência.

- boa: 1Tm 1.5; 1Pe 3.15-16; Hb 13.18
- limpa: 1Tm 3.8-9
- pura: At 24.16 (grego aproskopos): sem ofensa, sem tropeço.
- em constante exame e submetida ao Espírito Santo: Rm 9.
- I Tm 4.2 Consciência cauterizada
- Tt 1.15 Tudo é puro para os que são puros, mas para os corrompidos e incrédulos nada é puro; antes tanto a sua mente como a sua consciência estão contaminadas.

Exemplos: - Paulo: 2Co 1.12; At 23.1; 2Tm 1.3 (consciência pura antes da conversão).
- Jó estava tranqüilo em todo o seu sofrimento: Jó 27.6

Diante dessas considerações introdutórias, que tiveram por intuito apresentar os pressupostos que norteia minha definição de consciência, tanto do ponto de vista puramente humano, como bíblico, parto para o ponto central da questão proposta: Como a consciência age no ser humano corrompido pelo pecado.

Vejamos:
Embora toda a humanidade esteja corrompida pelo pecado, ainda assim é necessário dividirmos aqui a humanidade em dois grupos distintos: Os que crêem em Jesus como Senhor e Salvador, e os que não crêem.
Uma vez que o estado da consciência é fundamental na postura de cada um diante de Deus, é de supor que os cristãos verdadeiros busquem frequentemente a confissão e o arrependimento com o intuito de manter uma consciência pura.
Porém, a consciência não é autoridade final na vida do cristão, e não deve servir de parâmetro para nos julgar. Ela pode nos iludir ou enganar.
E ai é que veremos a diferença entre salvo e não salvo, entre quem verdadeiramente crê em Jesus como Senhor e Salvador, e quem não crê. Pois aquele que é verdadeiramente convertido, usará como “norte”, como “prumo”, a Santa Palavra de Deus.

Aquele que não é um cristão verdadeiro usará apenas a própria consciência como nivelador da sua conduta. Deste modo, o resultado dos julgamentos do não salvo, por vezes, o colocará em situações contrárias a vontade de Deus.
Isto porque no homem caído, corrompido pelo pecado, a consciência está cauterizada, sob influencia direta do mal. É bem verdade que isto não impede que até certa medida o homem faça o que é reto e justo. Pois conquanto a natureza humana esteja completamente depravada e inclinada para todo tipo de maldade, ainda assim, por causa da lei de Deus que está gravada no coração do homem (Jr 31.33), este busca de muitas maneiras praticar a justiça civil, apresentar certo culto externo a Deus, e andar em retidão, pois julga que através destas “boas obras”, possa aplacar a ira de Deus que recai sobre ele, e até mesmo alcançar o favor divino.
Já no homem salvo, o cristão verdadeiro, a consciência age sempre em concordância com a Palavra de Deus. Pois esta agora não mais está sob influencia do mal, mas sim do Espírito Santo, que o conduz a toda a verdade.

Entretanto, não podemos esquecer que o homem não é “marionete” de Deus. Mesmo os salvos podem cometer erros grosseiros quando ignoram a vontade de Deus, e baseiam seus julgamentos unicamente em sua consciência.
Dos que sabiamente persistiram em ter uma consciência pura diante de Deus, além dos santos personagens bíblicos, e dos pais da igreja cristã, entre tantos outros, temos também o bom e histórico exemplo de Martinho Lutero que, no uso correto da consciência do homem cristão, ao se ver ameaçado de morte pronunciou as celebres palavras:


"Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão - porque não acredito nem no Papa nem nos concílios já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si mesmos - pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável.”


Rev. Ari Fialho Jr.
www.reverendoari.blogspot.com
Soli Deo Gloria!


*Bíblia Sagrada
*BERGER, Peter & LUCKMANN, Thomas 6a edição. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1985.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Do Livre Arbítrio - Fórmula de Concórdia

ARTIGO 2º
DO LIVRE ARBÍTRIO

Questão principal nesta controvérsia.

O Livre Arbítrio encontra-se a vontade do homem em quatro estados diferentes, a saber:
1. antes da queda;
2. depois da queda;
3. depois da regeneração;
4. depois da ressurreição da carne.

A questão principal diz respeito apenas à vontade e capacidade do homem no segundo estado: que forças possui de si mesmo, em coisas espirituais, depois da queda dos primeiros pais e antes de sua regeneração, e se tem a capacidade de dispor-se e preparar-­se, com suas próprias forças, antes de regenerado pelo, Espírito de Deus, para a graça de Deus, e de aceitar ou não a graça oferecida por intermédio do Espírito Santo na palavra e nos santos sacramentos.

Doutrina correta e pura sobre este artigo de acordo com a palavra de Deus.

1. No tocante a isso, nossa doutrina, fé e confissão é que o enten­dimento e a razão do homem são cegos em coisas espirituais, e nada en­tende ele com suas próprias forças, como está escrito: “Ora, o homem na­tural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las” quando é examinado a respeito de coisas espirituais.

2. Cremos, ensinamos e confessamos, outrossim, que a vontade ir­regenerada do homem não só está alheada de Deus, mas também se tornou inimiga de Deus, de modo que só deseja e quer o mal e o que se opõe a Deus, conforme está escrito: «Porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade». Da mesma forma: Por isso o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Sim, tão pouco como um corpo morto pode vivificar a si mes­mo para a vida corpórea, terrestre, tão pouco o homem, que pelo pecado está espiritualmente morto, pode erguer-se a si mesmo para a vida espi­ritual, conforme está escrito: «E estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo “Razão por que não somos por nós mesmos - capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus”. 2 Co 3.

3. Mas Deus Espírito Santo não opera a conversão sem meios, po­rém se vale para isso da pregação e audição da palavra de Deus, como está escrito em Rm 1: O evangelho é «poder de Deus» para salvar. Também: A fé vem da audição da palavra de Deus. Rm 10. E é da vontade de Deus que se ouça sua palavra e não se fechem os ouvidos. Com essa palavra o Espírito Santo está presente e abre os corações, para que, como Lídia, em Atos 16, nela atentem, sendo assim convertidos exclusivamente pela gra­ça e poder do Espírito Santo, de quem, dele só, é a obra da conversão do homem. Pois sem a sua graça, o nosso «querer e correr», nosso plantar, semear e regar nada são, se ele não der «o crescimento», como diz Cristo: “Sem mim nada podeis fazer”. Com essas breves palavras nega os poderes ao livre arbítrio e atribui tudo à graça de Deus, para que ninguém se glorie diante de Deus. 1 Co 9.


B. Doutrina falsa e contrária a Palavra de Deus.

Conseqüentemente, rejeitamos e condenamos todos os erros seguintes como sendo contrários à norma da palavra de Deus:

1. O delírio dos filósofos chamados estóicos, como também dos ma­niqueus, os quais ensinaram que tudo quanto acontece tem de acontecer assim e não poderia suceder de outra maneira, e que o homem faz tudo coagido, mesmo aquilo que pratica em matéria de coisas externas, e que é coagido a obras e atos maus como libidinagem, rapina, assassínio furto e coisas que tais.

2. Rejeitamos também o erro dos pelagianos crassos, os quais ensi­naram que o homem, com suas próprias forças, sem a graça do Espírito Santo, pode converter-se a si mesmo a Deus, crer o evangelho, obedecer de coração à lei de Deus e assim merecer perdão dos pecados e vida eterna.

3. Rejeitamos, outrossim, o erro dos semi-pelagianos, os quais ensi­nam que o homem pode com as próprias forças, iniciar sua conversão, não podendo, entretanto completá-la sem a graça do Espírito Santo.

4. Rejeitamos igualmente o ensino de que, conquanto o homem antes de seu re­nascimento seja demasiadamente fraco para com seu livre arbítrio fazer o ini­cio, e, com suas próprias forças, converter-se a si mesmo a Deus e de co­ração obedecer à lei de Deus, a vontade do homem, todavia depois que o Espírito Santo, com a pregação da palavra, fez o começo e nela ofereceu sua graça, pode então, de suas próprias e naturais forças, acrescentar algo, bem que pouco e, debilmente, ajudar e cooperar, qualificar-se. preparar-se para a graça, apreender e aceitá-la, e crer no evangelho.

5. Da mesma forma, que o homem, depois de renascido, pode obser­var com perfeição e integralmente cumprir a lei de Deus, e que esse cum­primento é nossa justiça diante de Deus, pela qual merecemos a vida eterna.

6. Também rejeitamos e condenamos o erro dos entusiastas, os quais imaginam que Deus atrai os homens a si, os ilumina, justifica e salva sem meios, sem que ouçam a palavra de Deus, também sem o uso dos santos sacramentos.

7. Do mesmo modo, que Deus, na conversão e regeneração, destrói integralmente a substancia e essência do velho homem, e especialmente a al­ma racional e que na conversão e regeneração cria. do nada, nova essên­cia da alma.

8. Também o emprego sem explanação, das expressões que seguem: que a vontade do homem resiste ao Espírito Santo antes da conversão, na conversão e depois dela, e que o Espírito Santo é dado àqueles que lhe resistem propositada e persistentemente. Pois, como diz Agostinho, na con­versão Deus faz dos no lentes volentes e habita nos volentes.
No que tange às expressões dos antigos e dos novos doutores da igreja quando dizem: «Deus trahit, sed volentem trahit», isto é: «Deus atrai, mas atrai o querente». Também: «Hominis voluntasin conversione non est otiosa, sed agit aliquid», isto é: «Na conversão, a vontade do homem não é ociosa, mas realiza algo» - visto essas expressões haverem sido intro­duzidas para confirmação do livre arbítrio natural na conversão do homem, contra a doutrina da graça de Deus, julgamos que não concordam com a forma da sã doutrina, devendo-se evitá-las, por isso, com razão, quando se fala da conversão a Deus,
Por outro lado, contudo, diz-se acertadamente que na conversão Deus, por intermédio da atração do Espírito Santo, transforma homens recalcitran­tes e não-volentes em volentes, e que depois dessa conversão, em diário exercício do arrependimento, a vontade renascida do homem não é ociosa, mas coopera em todas as obras do Espírito Santo, que ele realiza através de nós.

9. Também o que o Dr. Lutero escreveu: comportar-se a vontade do homem em sua conversão
«pure passive», isto é, absolutamente nada fazer, isso deve entender-se respectu divinae gratiae in accendendis novis motibus, isto é, quando o Espírito Santo, por intermédio da palavra ouvida ou pelo uso dos santos sacramentos, apreende a vontade do homem e opera o no­vo nascimento e conversão.
Pois, quando o Espírito Santo operou e alcan­çou isso, é a vontade do homem foi mudada e renovada exclusivamente por sua divina força e operação, então a nova vontade do homem é instrumento e órgão de Deus Espírito Santo, de modo que não só aceita a graça, mas ainda coopera com o Espírito Santo nas obras que seguem.
De sorte que antes da conversão do homem existem apenas duas cau­sas eficientes, a saber: o Espírito Santo e a palavra de Deus, o instrumento do Espírito Santo, e pelo qual ele opera a conversão, O homem deve ouvir essa palavra, se bem que não lhe pode dar crédito nem aceitá-la por suas próprias forças, mas exclusivamente por intermédio da graça e operação de Deus Espírito Santo.

Perguntas cruciantes?

(Controvérsia Sinergista p. 22)

Por que alguns homens se salvam e outros não? Por que Davi é aceito e Saul é rejeitado?

Por que Pedro se volta a Jesus e Judas vai «para o seu próprio lugar»?

Por que o evangelho é aceito por uns e é desprezado por outros?

Será que Deus ama realmente a todos os homens?


Será que Deus deseja seriamente a salvação de todos? Será que o poder do evangelho é o mesmo nos corações de todos?

Então, por quê? Por quê?

Mas a Bíblia não responde?

Sem dúvida, ela responde. Só que a resposta da Bíblia não agrada à lógica do homem. Há tantas coisas na Bíblia que são contra a maneira de pensar da gente que a cada passo o nosso velho homem pára e meneia a cabeça. E a Bíblia não esconde o fato; ao contrário, torna a repetir esse desencontro. Deus declara: “Assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus pensamentos são mais altos do que os vossos pensamentos”. Is 55.9. E é uma sorte, uma bendita sorte que seja assim; que, contra toda a lógica do mundo, Deus, em lugar de me condenar eternamente por causa dos meus pecados, me acolhe em sua infinita mise­ricórdia e me recebe como seu filho amado. «Que preciosos para mim, Senhor, são os teus pensamentos!» SI 139. 17.

E é esta a resposta que a Bíblia dá às perguntas cruciantes acima:

1 - Deus deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. 1 Tm 2.4
- Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Jo 3.17
- Deus não nos destinou para a ira, mas para al­cançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo. 1 Ts 5.9

2 - Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura, ­Mc 16.15.

3 - Não me envergonho do evangelho, porque é o poder Deus para a salvação de todo aquele que crê. Rm 1.16.

4 - Quem crer e for batizado será salvo i quem, porém, não crer será condenado, Mc 16.16.
Jo 3.36 - Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, to­davia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.

5 – “Pela graça sois salvos." Ef 2.5. Rm 3.24 - Somos justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.

Resumindo, temos a resposta da Bíblia em 4 afirmações:

- Deus quer salvar a todos.

- O evangelho oferece a redenção em Cristo a todos.

- Quem se salva se salva unicamente por graça.

- Quem se perde se perde por culpa própria.


Mais que isto a Bíblia não diz. Por conseguinte, devemos contentar-nos com o que acabamos de ouvir. MAS - esse «mas» maiús­culo vem do velho homem, que aponta com o dedo para a «cruz dos teólogos» e raciocina - mas como se explica então que nem todos os homens se convertem e se salvam?· E ele oferece esta solução: ou a diferença está em Deus ou ela está no ho­mem.
Concordamos plenamente: se nós queremos seguir os «nos­sos pensamentos» e resolver o impasse com o nosso raciocínio, então não resta outra opção: ou a diferença está na atitude de Deus ou ela está no homem. A primeira foi a escolha do calvi­nismo, a segunda foi a escolha do sinergismo.

A opção do Calvinismo

As igrejas de cunho calvinistas (reformados, presbiterianos, congregacionais, batistas, valdenses, etc.) ensinam que a mise­ricórdia divina envolve apenas os escolhidos, os eleitos pela graça, e não a todos os homens. Eles negam a universalidade da graça divina e do evangelho. Na Confissão Galicana (1559) lemos: - “Cremos que dessa corrupção e condenação geral, em que se encontram todos os homens por natureza, Deus salva alguns, a saber, aqueles que ele... escolheu em Cristo, mas que os outros ele os abandona nesta corrupção e condenação, para neles, que devem ser condenados por direito, revelar sua jus­tica”.

A opção do Sinergismo

Melanchthon é o pai do sinergismo. O termo dá a entender que o homem pode cooperar na sua conversão. No seu com­pêndio de doutrina, - “Locí”, Melanchthon escreve: «Como a pro­messa de Deus é universal e como não existem em Deus von­tades contraditórias, é necessário admitir que haja dentro de nós algo que estabeleça a diferença de atitude e venha a explicar por que Saul é rejeitado e Davi é aceito.» Tornou-se corrente a expressão: “algo no homem”, o que Melanchthon explica des­sa forma; há no homem o livre arbítrio, pelo menos em dose mínima, mas o suficiente para poder, antes da conversão, adap­tar-se à graça, ir ao encontro dela, cooperar com ela. Enquanto nós aprendemos no catecismo que o homem natural é “espiri­tualmente cego, morto e inimigo de Deus”, igual a uma pedra na estrada que não se move, Melanchthon discorda plenamente e escreve: “A conversão em Davi não se processou da forma como se uma pedra se transformasse em figo, porém, dentro dele operou o livre arbítrio”.

O livre arbítrio vamos encontrar em todas as igrejas e cor­rentes onde ensinam que o homem por natureza possui forças suficientes para se decidir em favor de Deus, convertendo-se, se quiser: os pelagianos reclamam capacidade total, os semi-pe­lagianos, católicos e arminianos se contentam com capacidade limitada, e os sinergistas, seguidores de Melanchthon, usam uma dosagem mais fraca do livre arbítrio, nestes termos: Deus atrai os «querentes».

Que a opção do sinergismo está errada, ensina-nos o ar­tigo anterior que trata do pecado original. Porém de uma ma­neira toda especial a Bíblia ainda mostra:

1 - Que o homem natural não é capaz de crer: Jo 6.44 - Nin­guém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer.

2 - Que para o homem a mensagem salvadora é loucura: 1 Co 2.14 - O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura.

3 - Que a conversão é um ato da graça e poder de Deus: Ef 1.19 - E qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder.

4 - Que a conversão é obra exclusiva do Espírito Santo que age através dos meios da graça: Palavra e Sacramentos: Jo 3.5 – “Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”.

Por conseguinte, devemos corrigir a frase citada por Me­lancnthon: “Deus atrai os querentes”, substituindo os “queren­tes”, que não existem, por “não-querentes”, de forma que a frase soe: Deus transforma os não-querentes em querentes, de acor­do com Fp 2.13 - Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar.



Artigo 2º - Do Livre Arbítrio
Fórmula de Concórdia
Livro “Cremos por isso também falamos”
de Otto O. Goerl
Ed. Concórdia S. A.
Porto Alegre – RS.
Ano 1977.


Rev. Ari Fialho Júnior
Soli Deo Gloria!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Graça Irresistível

Olá amados.
Que a Paz de Cristo esteja com vocês!


Graça Divina, definição: (gratia salvifica, ou, Charis Sootéerios), pela qual Deus se vê impelido a perdoar o pecado e conceder a salvação à humanidade caída, é a sua disposição graciosa (gratuitus Dei favor), proporcionada por mediação da satisfação vicária de Cristo, revelada no evangelho (Rm 3.25; Jo 20.31).
Lutero nos diz: “Gottes Huld oder Gunst, die er zu uns trägt bei sich selbst.” Ou, “Gratia Dei aliquid in Deo, sc. Affectus Dei benevolus, est non qualitas animi in hominibus. (Lutero diz aqui que a afeição que Deus nutre por nós, não tem origem em nós, mas sim no próprio Deus).

Pergunta (e também premissa) sobre a qual se apoia a doutrina da graça irresistível:
Se Deus é todo poderoso, como pode o homem resistir a tamanho poder?


A aceitação, ou rejeição da doutrina da Graça Irresistível foi objeto que gerou uma série de questionamentos. Os Arminianistas rejeitaram tal doutrina por ensinarem que o homem natural tem de forçosamente possuir livre arbítrio em assuntos espirituais, visto que a sua conversão sem cooperação implicaria em coerção da parte de Deus.


Os Sinergistas, por sua vez, rebatem a ideia da graça irresistível incluindo na fé justificadora a con­duta moral do homem, ou sua auto decisão, ou sua atitude corre­ta para com a graça, Segundo o seu ensino, o crente, ao procurar a certeza de sua salvação, deve confiar na graça divina dentro dele mesmo (gratia infusa), ou seja, na sua santificação.
Enquanto os Sinergistas incluem na fé justificadora a con­duta moral do homem, ou sua auto decisão, os Arminianos insistem em que a fé justi­ficadora abranja também as boas obras dos crentes.

Foi por este motivo que Lutero e todos os teólogos luteranos ortodoxos tão energicamente insis­tiram em que na igreja se ensinasse esta doutrina bíblica: Que a graça justificadora é o imerecido favor de Deus em Cristo Jesus.


Declara a Apologia: "É preciso que na igreja de Cristo se retenha o evangelho, isto é, a promessa de que por amor de Cristo os pecados são gratuitamente remetidos. Aqueles que desta fé nada ensinam... anulam completamente o evange­lho." (Art. IV (II), 120. Triglotta, pág. 155).

Diante disto, rejeito o argumento dos Arminianistas e dos Sinergistas, porque tal repousa sobre falsa premissa; pois “Deus é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade” (Fp 2.13 Cf também Ef. 1.19 Fp. 1.29).


Os Calvinistas por sua vez, insistem em que o homem não pode frustrar os planos de Deus. Que se o homem é tão fraco que não é capaz de resistir ao Diabo e o pecado, por que conseguiria resistir ao Poder de Deus? Ou Deus é Onipotente, ou não.


Conclusão:


A conversão do pecador é realmente obra da onipotência de Deus, Ef. 1:19; é um poder irresistível, porém não coercivo. Até porque, a própria natureza da conversão exclui a ideia de coerção; pois consiste essencialmente na atração do pecador pelo próprio Deus. Jo. 6:44, o que se efetua pelos meios da graça, Ram. 10:17.


Diz a Fórmula de Concórdia: “[Condenamos] se usem as se­guintes expressões. . . que o Espírito Santo é outorgado àqueles que lhe resistem proposital e persistentemente; porquanto Deus, na conversão, faz dos que não querem, pessoas que querem, e habita nos que querem, segundo o diz Agostinho." (Epít., lI, 15).


Do que acima ficou dito, torna-se evidente o quão impor­tante é para o teólogo cristão manter a definição escriturística da graça justificadora; porquanto, sem ela, não poderá nem ensinar a doutrina verdadeira da justificação conforme se acha revelada no evangelho nem excluir da justificação a doutrina da salvação pelas boas obras, tampouco poderá confortar devi­damente qualquer pecador que busca a certeza da salvação. Por conseguinte, onde quer que se perverta a doutrina escri­turística da graça justificadora, toda a doutrina cristã ficará corrompida e paganizada.


Chemnitz diz: "Gratia in articulo iustificationis intelligenda est de sola gra­tuita misericordia Dei."

Com esta definição da graça justifica­dora a igreja cristã permanece ou cai (articulus stantis et ca­dentis ecclesiae).


Rev. Ari Fialho Jr
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Teólogo Luterano
Soli Deo Gloria!