sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"Pergunta/Desabafo" feita por Pr. Robson, usuário do Yahoo!Respostas. Veja abaixo a resposta do Rev. Ari. Acompanhe:

Quando um verdadeiro Pastor pensa em sucumbir?



Disseram-me que ninguém teme a morte. Eu não tenho medo de morrer, amigo. Apavoro-me só de imaginar que um dia deixarei de existir sem ter feito a minha vida valer. Todos lutamos para escrever alguma coisa na página em branco que recebemos no dia em que aportamos neste mundo. Mas a nossa história, que inclui reputação, renome, fama e poder demandam uma usina de energia. Viver empolga, mas também cansa para caramba.


Não almejo grandes arroubos. Acho que ficaria satisfeito com pequenas coragens; busco uma intrepidez mínima que me dê ânimo para o próximo passo. Igual a você, sinto-me numa maratona. Chamo a minha vida de maratona.

Confesso que o meu fôlego acabou para levantamento de recursos, para mobilização de pessoal, para cuidado de carentes, para gestos de solidariedade, para vencer a complacência generalizada. Depois de anos de trabalho, não encontro sombra, refresco. Admito: o dia-a-dia eclesiástico não passa de um triturador de sonhos.


O desperdício de energia emocional para lidar com inconstâncias é constrangedor. Noto que o conceito de “Amor Líquido” proposto por Zygmunt Bauman transbordou para a espiritualidade que me rodeia. Vivo ladeado por gente que trata o divino com a lógica do mercado: um mínimo de investimento esperando receber um máximo de retorno.

Preciso me recompor depois de dar-me tanto, mas não sei como. Decepções aparentemente desprezíveis geraram um desalento monumental em minhas poucas iniciativas. Somei desencantos e agora me vejo roubado de antigos ideais. Ímpetos se transformaram em prudência. Cautela substituiu denodo. Desânimo tomou o lugar do coração aquecido. Pouco a pouco, letargia se alastrou como um cancro em minha alma. Perdido, sem paixão, perambulo como um zumbi nos becos mal iluminados da minha religião.


Grato por se mostrar disposto. Vejo-lhe como parceiro na agonia, irmão na angústia e amigo na caça de novos horizontes. Mesmo pastor de uma comunidade crescente, estou desalentado; nenhuma conquista consegue dessedentar o meu coração, acalmar o meu espírito conturbado ou reverter o esmorecimento de minha existência. Sei que Deus está comigo, mas as superficialidades me sufocam, as repetições me estranham, os lugares-comuns me derrubam. Minha denominação faz água. Breve, bateremos no fundo do poço.


Mesmo na comunicação fria da internet, sei que posso "andar" ao seu lado, e isso me anima. Você tem me ajudado a cerzir pequenas coragens no meu tecido existencial. Por aqui, ando só, estou só e me vejo só no futuro. Porém, de algum modo, o mundo virtual nos aproximou. Nada lhe peço nada senão um aceno leve.


Diga-me, outros carregam um clamor semelhante ao meu? Mesmo sem conhecer muita gente fora do meu gueto, penso que sete mil ainda não arriaram os braços diante desta inclemente realidade que me rodeia.


Deus tenha misericordia de nós.........

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Resposta do Rev. Ari:

Olá Pr. Robson

Paz e Graça em Cristo Jesus!


Sim, muitos carregam um clamor semelhante ao seu.


É realmente grande o número de pastores, em todas as denominações, que em meio ao desespero provocado por suas tragédias pessoais optam pela famosa "demissão voluntária" do Santo Ministério e vão fazer qualquer outra coisa na vida.

E como se não bastasse isto, ainda temos que conviver com falsos pastores que não passam de lobos disfarçados com o intuito de devorarem o rebanho. Transformam igrejas em máquinas caça-níqueis e exploram a fé de um povo que clama por salvação. Mas o fato é que a seara continua sendo grande e os trabalhadores ainda são poucos.


Não consigo imaginar a sua dor. Se eu dissesse que sei o que você está sentindo eu estaria mentindo, creio que só Deus mesmo e você é que sabem dimensionar o tamanho de seu sofrimento. Mas há algo que eu sei, e sei também que isto faz toda a diferença na vida das pessoas, algo que é a vontade de Deus para todos nós, a saber: que compartilhemos nossos sofrimentos, que nos ofereçamos para carregarmos as cruzes uns dos outros. Que choremos juntos, e nos alegremos juntos.


Como a maioria dos pastores, também eu tive decepções dentro do ministério pastoral. Com profunda tristeza vi parte do meu projeto de trabalho na Obra de Deus se desmoronar. Cheguei mesmo a pensar em desistir. Mas Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, redobrou minhas forças e me fez permanecer firme, lutando para continuar fiel ao chamado do Senhor.


Portanto Pr. Robson não desista. Gib niemals auf! Se mais não me é permitido fazer visto à distância que nos separa, quero que saiba que estou disposto a orar por você, a chorar com você, ou simplesmente, como se eu estivesse ai com você, podemos ficar em silêncio contemplando a vida e meditando nas coisas de Deus. Creia você não está só. Neste instante estou ao seu lado em oração.

Sinta o abraço confortador de nosso Senhor Jesus Cristo e reflita no texto de Romanos 8.31-39 dirigido à todos os cristãos: 

"Que diremos, pois, à vista destas cousas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as cousas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas cousas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as cousas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor". (Rm 8.31-39)


Deixe de olhar para os homens e mantenha o foco em Deus. Sê forte e corajoso varão valoroso, o Senhor é contigo!


Ao vencer este seu período de “40 dias de deserto” saiba que você sairá fortalecido. E será usado grandemente por Deus para honra e glória de Seu Santo nome.


Fique na Paz do Senhor.


Creia nisto:


JESUS QUER VOCÊ!!!


Rev. Ari Fialho Júnior.
Teólogo Luterano
Soli Deo Gloria!

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